POÇO SEM FUNDO

Outono será mais mortal se não houver ‘lockdown’, diz especialista

Analista de dados diz que, sem isolamento social, covid-19 pode se juntar a outras doenças respiratórias e agravar problema do sistema de saúde

Marcelo Seabra / Ag. Pará
Marcelo Seabra / Ag. Pará
Só nesta semana, o Brasil teve: o mais letal fim de semana da pandemia e o número mais elevado de mortes para uma segunda-feira

São Paulo – O Brasil está na pior média de mortes diárias causadas pela covid-19 desde o começo da pandemia e a situação pode piorar ainda mais nas próximas semanas se não houver um lockdown nacional. Com o início do outono e aproximação do inverno, somado à ausência de medidas mais restritivas, o vírus irá se disseminar com mais facilidade. O vírus vai se alimentar dele mesmo e causar mais contágios, alerta o o analista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19. “Vai piorar o colapso e a fila de espera. A mortalidade subirá muito mais”, afirmou, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.


“Sem lockdown, feriadões só adiam a desgraça”


E isso num momento em que o Brasil já registrou o mais letal fim de semana da pandemia, o número mais elevado de mortes para uma segunda-feira e chegou à média de mortes calculada em sete dias. A única forma de reduzir os efeitos desse cenário seria haver uma coordenação nacional para um lockdown, ressalta Schrarstzhaupt.

Segundo ele, sem o isolamento social rígido a covid-19 se soma a outras doenças respiratórias, agravando o colapso no sistema de saúde. “Em março de 2020, nós fizemos o isolamento e conseguimos eliminar outros vírus respiratórios. Agora, com a mobilidade maior das pessoas, vamos ter a junção da covid-19 com outros vírus gripais. Se a gente não parar para baixar a transmissão, vamos ter dias piores ali na frente.”

Confira entrevista sobre porquê lockdown

Flexibilização da restrição

Enquanto o cenário da covid-19 se agrava, cientistas reforçam a necessidade de medidas de isolamento social, uso de máscaras e higiene pessoal. Entretanto, os governos estaduais, que agem por conta própria diante da omissão de Jair Bolsonaro, não conseguem articular maiores restrições. Em São Paulo, por exemplo, a capital paulista criou um megaferiado, mas os paulistanos viajaram ao litoral do estado, lotando praias e desrespeitando o isolamento social. “Isso descredibiliza a ferramenta para conseguir parar a transmissão. Se a gente não passa a mensagem de que não é para sair de casa, por causa do colapso, as pessoas vão viajar”, lamenta o especialista.

Isaac Schrarstzhaupt cita o Reino Unido como exemplo de precipitação na abertura do comércio. “Primeiro, apostaram na imunidade comunitária, não deu certo e fizeram um lockdown de dois meses. Quando o número caiu, eles abriram tudo de novo, os números dispararam e eles não fizeram nada de novo. Com a transmissão descontrolada, surgiu uma variante e fecharam tudo de novo. Agora, voltaram a flexibilizar, mas bem menos.”

“Aqui, no Brasil, o debate para fechar é eterno, enquanto o vírus fica solto e infectando as pessoas”, criticou Schrarstzhaupt. “É a analogia do foguete. Os números estão subindo sem parar e as restrições só desaceleraram (o contágio). Mas usar essa desaceleração para flexibilizar as poucas restrições só levará a subir de novo.”


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