Primeiras impressões

Novo ministro precisa revelar estratégias de combate à pandemia, diz imunologista

Para Gustavo Cabral (USP), após dizer que é contra o “lockdown” como “política de governo”, Marcelo Queiroga deveria anunciar a quais medidas para conter a transmissão da covid-19 ele é favorável

Reprodução/Instagram
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"Não basta dizer se é contra ou a favor", disse especialista, sobre declarações iniciais de Marcelo Queiroga

São Paulo – Em uma das primeiras declarações públicas após ser escolhido como novo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga afirmou nesta segunda-feira (15) que o lockdown – que restringe ao máximo a circulação de pessoas – não deve ser utilizado como “política de governo”. Além disso, ele disse ser favorável à autonomia dos médicos para receitar medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.

No pior momento da pandemia, quando a média móvel de mortos em sete dias bateu novo recorde, chegando a 1.855 óbitos por dia, o novo ministro precisa ir além dessas questões mais polêmicas. De acordo com o imunologista Gustavo Cabral, trata-se de uma questão “muito complexa” para Queiroga dizer apenas se é contra ou a favor.

“Não basta dizer se é contra ou a favor. Isso quem faz muito bem é o presidente, com prejuízos enormes para o Brasil”, disse o imunologista, em entrevista a Marilu Cabañas no Jornal Brasil Atual desta terça-feira (16). “Quando diz que é contra o lockdown como estratégia política, ele tem que mostrar sobre o que ele é a favor”, criticou.

Cabral destacou, por exemplo, que o ministro deve estabelecer estreita cooperação com estados e municípios quando forem aplicadas medidas restritivas. Além disso, para que medidas desse tipo sejam aplicadas, é preciso garantir auxílio financeiro para as pessoas, além de comunicar para toda sociedade o período de duração e metas específicas a serem atingidas. O imunologista também criticou a redução nos transportes públicos em cidades que adotaram medidas restritivas. A consequência óbvia é a superlotação de ônibus, trens e metrô, aumentando o risco de disseminação do vírus.

Vacinas

Para Cabral, o principal erro da gestão do general Eduardo Pazuello, antecessor de Queiroga, foi ter demorado meses para assinar a intenção de compra das vacinas que estavam em fase de teste. Mesmo que uma ou outra não se mostrasse eficaz, os benefícios econômicos da chegada precoce das vacinas cobririam esses custos.

Com pós-doutorado em Oxford, na Inglaterra, Cabral voltou ao Brasil no final de 2019. Como pesquisador associado da Universidade de São Paulo (USP), seu objetivo era pesquisar vacinas contra os vírus da zika e chikungunya. Mas, em função da emergência da pandemia, ele acabou adaptando seu projeto de pesquisas para produzir tecnologia vacinal capaz de ser utilizada também contra o novo coronavírus.

No momento, o imunizante desenvolvido por ele, em conjunto com outros pesquisadores, está sendo testado em animais. Devido à dificuldade em importar insumos de outros países, ele chamou a atenção para a necessidade de o Brasil desenvolver suas próprias tecnologias.

Devido à sua experiência na pesquisa de imunizantes, Cabral tranquilizou a população a respeito da interrupção do uso da vacina Oxford/AstraZeneca em diversos países europeus. França, Espanha, Itália, dentre outros, suspenderam a aplicação, após a ocorrência de casos de trombose. Os cientistas investigam se o surgimento de coágulos sanguíneos tem relação com a vacina.

De acordo com o imunologista, esse tipo de interrupção é um procedimento normal no desenvolvimento de novas vacinas. E servem justamente para garantir a segurança do imunizante. Em vez de causar pânico, esses dispositivos devem servir para tranquilizar a todos, aumentando a garantindo a confiabilidade dos imunizantes.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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