Em crise

Ministério da Saúde admite que estados e DF estão com estoque crítico de ‘kit intubação’

Em meio à escalada de casos de covid-19, associação alerta que medicamentos podem acabar em até seis dias no país. Pasta fala em força-tarefa para a compra, mas atropela a Opas com negociações paralelas

Alex Ribeiro/Fotos Públicas
Alex Ribeiro/Fotos Públicas
Resultado dos testes com medicamento para pacientes internados com covid-19 é uma boa notícia

São Paulo –  O Ministério da Saúde admitiu que todos os estados brasileiros e o Distrito Federal estão em “estoque crítico” de abastecimento de medicamentos que compõem o chamado “kit intubação” em meio à escalada de casos de covid-19 no país. Nenhuma das unidades federativas têm estoque suficiente, por exemplo, de bloqueadores musculares. Em audiência na comissão externa da Câmara, que acompanha as ações de enfrentamento à pandemia, o secretário de Atenção Especializada à Saúde da pasta, coronel Luiz Otávio Franco Duarte, reconheceu, nesta terça-feira (30) que houve um “desequilíbrio nacional muito rápido”. 

Um levantamento da Saúde, divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, aponta que já faltam analgésicos no Acre, Alagoas, Distrito Federal, Ceará, Maranhão, Roraima, Rio de Janeiro e Tocantins. Essas oito unidades federativas e mais outras 10 estão também sem abastecimento suficiente de sedativos, como Mato Grosso do Sul, Paraná e Sergipe. 

Durante a audiência, entidades ligadas a hospitais confrontaram o secretário diante da preocupação com os estoques do “kit intubação”. Um dos diretores da Federação Brasileira de Hospitais declarou que “desde a semana passada, os hospitais fecham leitos porque não têm como atender os pacientes”. A Associação Nacional dos Hospitais Privados apontou que há medicamentos para “mais cinco ou seis dias”. A crise de abastecimento também é relatada pela Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos. Segundo seu vice-presidente, os estoques são suficientes para apenas os próximos quatro dias. 

Escassez na rede pública

Representantes de indústrias brasileiras destacaram ainda que a demanda de medicamentos é alta sobretudo no estado de São Paulo. Desde a semana passada, médicos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública da capital paulista denunciam escassez de medicamentos para intubação de pacientes. A secretaria confirma que diversos itens “se esgotaram na primeira quinzena de março”. No último final de semana, ainda segundo a Saúde de São Paulo, o governo federal enviou ampolas de neurobloqueadores e anestésicos. Mas o material corresponde a apenas 1,9% da demanda mensal dos hospitais públicos, conforme acusa a secretaria. 

Em resposta, Franco Duarte alegou que o Ministério da Saúde vem negociando a compra de insumos. A indicação do secretário é que, na falta dos medicamentos, outros municípios e estados façam empréstimo, até que as tratativas de importação dos produtos sejam concretizadas. Apesar disso, ele ressaltou que “importações não são estimadas para os próximos dias”, de acordo com o Estadão. 

Saúde atrapalha compra

Franco Duarte anunciou na audiência que a importação se dará por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Contudo, reportagem do jornal O Globo, divulgada nesta quarta (31), revela que a “atuação descoordenada” do Ministério da Saúde “pode atrapalhar a aquisição” do kit intubação. Ao tentar intermediar no mercado internacional a compra para ajudar o Brasil, a Opas foi informada que o governo de Jair Bolsonaro, em nome do Ministério da Saúde, fez as mesmas cotações. O que, na prática, inviabilizaria a compra. 

De acordo com a organização, esses “atropelos com negociações paralelas”, frustra a  aquisição de medicamentos e retira a credibilidade da Opas, que ajuda diversos países em compras na saúde. Com o “bate-cabeça”, o ministério informou que um comunicado será redigido às embaixadas para não inviabilizar as aquisições pelas Opas. O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) reforçou que o problema precisa ser superado para garantir pela via mais rápida a compra do kit intubação. 


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