covid-19

Diante do colapso da Saúde, estados de norte a sul adotam medidas rígidas de isolamento

O sistema de Saúde do país está em semi colapso. absoluto, com brasileiros morrendo em casa ou aguardam em filas para UTIs, exigindo medidas de isolamento social por governadores e prefeitos

Gustavo Vara/fotos públicas
Gustavo Vara/fotos públicas
Ruas vazias pelo país. Realidade da covid-19 impõe aos políticos a adesão de medidas de isolamento mais restritivas

São Paulo – Em seu pior momento da covid-19 desde o início do surto, em março de 2020, algumas cidades e estados do país passam a adotar medidas mais rigorosas de distanciamento e isolamento social como tentativa de sair do colapso de seus sistemas de saúde. A média diária de mortes pela infeção nos último sete dias foi de 1.841 brasileiros. Até ontem (15), já são 279.286 óbitos, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass. Já o número de casos confirmados é de 11.519.609. Muitos estados enfrentam a falta de leitos para pacientes que, a cada dia mais, morrem em casa.

O caos é consequência do desgoverno de Jair Bolsonaro, que sempre contrariou os alertas da ciência pela necessidade de rigorosos períodos de isolamento social, com restrições, inclusive, à circulação de pessoas – o chamado lockdown. Mais que isso, o presidente despreza também o uso de máscaras e a higiene das mãos, únicas medidas com eficácia comprovada no combate à propagação da covid-19. Sem falar nas dificuldades que cria para a aquisição de vacinas para a população.

Com isso, governadores e prefeitos desistem de esperar pelo comando central e tentam decretar medidas de contenção. Confira alguns:

Nordeste

Na Bahia, vigoram medidas de isolamento desde o dia 26 de fevereiro. No domingo (14) o governador Rui Costa (PT) estendeu as restrições até o dia 22 de março, pelo menos. Está vedada das 20h às 5h a circulação de pessoas nas ruas, exceto por “saúde ou comprovada urgência”. Estão funcionando apenas serviços essenciais como farmácias, hospitais e supermercados, com protocolos rigorosos de atendimento. Restaurantes estão autorizados a operar apenas por entrega em domicílio (delivery). Pessoas que descumprirem o decreto devem ser autuadas por crime contra a saúde pública.

Uma das situações mais caóticas do Nordeste está em Pernambuco. O estado está com ocupação em UTIs acima de 95% da capacidade, em semi colapso e baixou ontem medidas para intensificar o isolamento. O governador Paulo Câmara (PSB) anunciou restrições que devem vigorar de 18 a 28 de março. Ficam proibidos de funcionar igrejas, shoppings e todo o comércio. A exceção fica por conta de serviços essenciais e entrega a domicílio.

O Ceará também vive cenário complicado em relação à covid-19. Com mais de 90% das UTIs ocupadas, o estado vê o número de internações 20% acima do que o registrado na pior fase da pandemia até então, no ano passado. A secretaria de Saúde anunciou hoje o aluguel de oito câmaras frigoríficas para armazenar corpos. Até o dia 21 de março, o governador Camilo Santana (PT) decretou medidas duras de isolamento, com apenas o serviço essencial em funcionamento. Hoje, Camilo também anunciou que estuda auxílios econômicos para os mais vulneráveis.

Centro-Oeste

Um dos estados com situação mais grave de falta de leitos hospitalares é o Mato Grosso. Ao menos 80 pessoas estão com sintomas graves e à espera de uma vaga. Hoje (16), o governo do estado prorrogou medidas de isolamento social até, ao menos, o dia 4 de abril. Elas já vigoram há duas semanas. “Precisamos conter a circulação do vírus, é uma questão de salvar vidas. O governo está fazendo tudo que está ao seu alcance para abrir mais leitos de UTIs. Um esforço de todos os servidores, porque precisamos oferecer tratamento para quem necessita. Mas, se não houver colaboração de cada um para usar máscara e não aglomerar, não teremos condições para atender a todos. E isso é o que nos preocupa nesse momento”, disse o governador Mauro Mendes (DEM).

Entre as medidas adotadas destacam-se: de segunda à sexta, proibição de todas as atividades econômicas das 19h às 5h. Aos sábados e domingos, a proibição será após o meio-dia. A exceção fica por conta das farmácias, imprensa, hospedagem, serviços de guincho, segurança e vigilância privada, serviços de saúde, funerárias, postos de gasolina (exceto conveniências), indústrias, transporte de alimentos e grãos, e serviços de manutenção de atividades essenciais, como água, energia, telefone e coleta de lixo. Supermercados poderão funcionar nos sábados das 5h às 19h e aos domingos, até o meio-dia. Fica autorizado o funcionamento de restaurantes e congêneres nas modalidades take-away (retirada no local) e drive-thru somente até às 20h45. O delivery está autorizado até as 23h.

Sudeste

Em São Paulo, o estado inteiro entrou na segunda-feira (15) em “estágio emergencial”, antes chamado de fase roxa. Trata-se do endurecimento da fase anterior, vermelha. Todos os serviços administrativos de empresas devem ser feitos em home office e vigora toque de recolher das 20h às 5h. A medida vai valer até o próximo dia 30.

O estado é o com maior capacidade hospitalar do Brasil. Mas mesmo assim, após sucessivas cenas de desrespeito ao isolamento social, enfrenta o colapso pela falta de leitos em muitas cidades. O vírus está em momento de acelerada disseminação e o governador João Doria (PSDB) declara apoio a medidas como “lockdown de verdade”, pelos prefeitos.

Foi o caso de Araraquara. Após duas semanas de lockdown rigoroso, com interrupção na circulação do transporte público e fechamento até mesmo de supermercados e postos de gasolina, a cidade reduziu em 50% os casos de covid-19. A partir de hoje, a cidade de São José do Rio Preto também adota medidas mais rígidas. ” Chegou o momento que não é possível abrir mais leitos, não temos mais leitos, medicamentos, recursos humanos. Nossa restrição chegou ao limite máximo e daqui para a frente é apenas ‘lockdown‘. Não adianta abrir mais leitos”, disse o secretário de Saúde da cidade, Aldenis Borim.

Outro estado a adotar medidas mais rigorosas de isolamento foi Minas Gerais. O governador, Romeu Zema (Novo), após a evidência do colapso em seus sistemas de saúde, anunciou hoje o endurecimento das medidas de isolamento com a chamada “onda roxa”. A medida vigora, pelo menos, 15 dias. No decreto, ficam autorizados a funcionar em todo o estado apenas serviços essenciais durante todo o dia. A capital, Belo Horizonte, está em colapso do sistema de Saúde, com mais de 98% das vagas em UTIs ocupadas.

Sul

A região Sul vive um dos piores cenários do país em relação à covid-19. Os três estados, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão com falta de leitos hospitalares. Embora a situação de colapso já tenha dado sinais desde o fim do ano passado, pouco foi feito para conter a disseminação do vírus e o desrespeito ao isolamento marca a região. Agora, governadores e prefeitos tentam endurecer medidas de isolamento, enquanto parte dos cidadãos morrem em casa sem atendimento. Outra parte, porém se mostra resistente a aceitar as restrições.

Santa Catarina

Em Santa Catarina, os 22 municípios que compõem a região metropolitana de Florianópolis decidiram ontem, em conjunto, um lockdown parcial. A partir do fim da tarde de hoje, atividades não essenciais ficam proibidas das 18h às 6h. Em todo o estado, as restrições são as mesmas, mas apenas aos finais de semana.

Um grupo de médicos e trabalhadores da Saúde de Florianópolis já havia pedido na semana passada, em carta, um lockdown total de 14 dias. Portanto, a comunidade científica avalia que as medidas que entram em vigor hoje são insuficientes. “A ciência continua dizendo: fiquem em casa, usem máscara, evitem aglomeração! E se o estado não respeita a ciência, nós respeitamos.” disse o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ubaldo Cesar Balthazar.

Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul em sua totalidade segue em “bandeira preta” desde o dia 27 de fevereiro, o estágio mais restritivo do programa estadual de isolamento, vigente desde o ano passado. O governador, Eduardo Leite (PSDB), afirma que o período mais restritivo deve durar até, pelo menos, o início de abril. O estado também deve adotar um modelo de “cogestão”, em que municípios podem adotar medidas menos restritivas, caso haja menor pressão no sistema de saúde. Na prática, os serviços não essenciais estão proibidos das 20h às 5h.

Paraná

Em franco colapso em seus sistema de Saúde, com 1.320 pessoas na fila por uma UTI, o Paraná ainda segue com medidas brandas de isolamento adotadas pelo governador Ratinho Júnior (PSD). Amanhã (17) termina a validade de um decreto que prevê toque de recolher das 20h às 5h, mas permite, inclusive, aulas presenciais.

Já em Curitiba, desde sexta-feira vigora uma política mais forte de isolamento. Indústrias e serviços não essenciais estão proibidos de funcionar. Mesmo supermercados devem limitar as vendas a produtos de alimentação, higiene e limpeza. O decreto vale até domingo (21).

Norte

O Norte do Brasil foi a primeira região a sentir o grande impacto da covid-19 em 2021. O cenário, especialmente em Manaus, antecipou o colapso no restante do país. A livre e intensa circulação do vírus chegou a produzir uma mutação do Sars-Cov-2 , nome do novo coronavírus, na capital amazonense. A cepa, batizada de P1, é mais contagiosa do que as variedades anteriores que circulavam pelo país.

Além da velocidade de propagação do vírus, o Amazonas sofre com pouca estrutura hospitalar, as grandes distâncias até os locais de atendimento e com a pequena quantidade de testes aplicados à população. O estado também sofreu em janeiro com a falta de oxigênio hospitalar. Apesar da distribuição do insumo com relativa regularização, o sistema de saúde segue sob pressão.

Entretanto, o governo estadual, apesar da dimensão do colapso, não adota medidas eficazes de isolamento. Especialistas locais, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) pedem por medidas de isolamento e alertam para a possibilidade de uma terceira onda. Até então, as autoridades locais seguem rejeitando a ciência e podem partir rumo ao terceiro colapso na Saúde.

“Destacamos a importância da adoção de medidas de supressão ou bloqueio da transmissão e crescimento dos casos, e consequente redução do contínuo crescimento de óbitos diários, com a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais”, afirma a Fiocruz, em boletim da última semana.

Pará

Já no Pará, o governo adota uma postura de maior preocupação com a covid-19. Esta semana a Região Metropolitana de Belém passa por uma experiência de sete dias de lockdown. “Não há algo mais entristecedor do que ver um irmão ou uma irmã paraense querendo um leito, querendo a oportunidade de lutar pela vida e não conseguir”, disse o governador Helder Barbalho (MDB).

A capital paraense está com ocupação de leitos de UTI em 88,8%. As restrições vigentes incluem o fechamento dos municípios de Belém, Ananindeua, Benevides, Marituba e Santa Bárbara. Apenas está permitido o transporte de produtos, alimentos e remédios. As atividades não essenciais estão suspensas, sendo exceção serviços médicos, farmacêuticos, policiais e de abastecimento.


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