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Novo recorde de mortes registradas em 24 horas. Bolsonaro dificulta acesso a kit de intubação

Foram 3.650 mortos por covid-19 em um dia. Enquanto isso, cidades enfrentam dificuldades para conseguir medicamentos. As que conseguem, Bolsonaro toma

Vinícius Quintão/FMUSP
Vinícius Quintão/FMUSP
De acordo com a Confederação Nacional de Prefeitos, em levantamento divulgado hoje (26), 1.316 municípios estão no limite de medicamentos necessários para intubação

São Paulo – O boletim desta sexta-feira (26) do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) informa o registro de 3.650 novas vítimas da covid no Brasil em um período de 24 horas – mais de uma morte por minuto. É o recorde de mortes registradas no período equivalente a um dia de todo o histórico do surto. Contudo, o recorde foi batido sem contar com os dados do Ceará, que não repassou os dados a tempo para o fechamento do balanço com os dados completos do país. Foi a segunda vez desde o início da pandemia, em março de 2020, que o Brasil registra mais de 3 mil óbitos causados pela doença em 24 horas. A primeira foi em 17 de março, com 3.149 notificações. Com os números de hoje, o Brasil chega a 307.112 mil mortos de acordo com dados oficiais, sem contar com ampla subnotificação, reconhecida pelas autoridades sanitárias até do próprio governo.

Número recorde de mortos por covid-19. Fonte: Conass

Em relação ao número de novos infectados, o Conass informa o recebimento de 84.254 registros pelos estados, totalizando 12.404.414 casos, também desde março do ano passado. Ontem, o Brasil bateu o recorde de registros em novos casos em um só dia, com 100.736 ocorrências.

Os dados da covid-19 de hoje confirmam que pandemia no país segue em total descontrole. É o pior momento do surto de covid no Brasil e epidemiologistas afirmam que a tendência é de agravamento. Atualmente, mais de 25% das mortes por covid-19 no mundo ocorrem em solo brasileiro. Desde o dia 9, o Brasil é o epicentro do vírus no mundo, com o maior média diária de vítimas da infecção respiratória.

Sem medicamentos

Enquanto isso, a situação da saúde pública é de colapso por todas as regiões do país. Apenas Amazonas e Roraima não estão com filas de leitos de UTIs. Mesmo com capacidade ampliada, a rede hospitalar do Brasil não comporta a demanda elevada, já que a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus está em patamar inédito na história de mais 500 anos do Brasil.

Além de leitos e pessoal, faltam medicamentos. De acordo com a Confederação Nacional de Prefeitos, em levantamento divulgado também hoje, 1.316 municípios estão no limite de medicamentos necessários para intubação. Isso significa que 23% das cidades do Brasil, além de não possuírem mais UTIs suficientes para atender os pacientes com covid, também podem ser obrigados a suspender os tratamentos pela falta de medicamentos.

Dois dias

Enquanto, cidades e hospitais correm para conseguir até mesmo anestésicos, o governo do presidente Jair Bolsonaro dificulta o acesso e não garante o fornecimento dos medicamentos para intubação. O relato é do secretário da Saúde de São Paulo, Dr. Jean Gorinchteyn. “Cidades não tiveram as mesmas possibilidades de aquisição desses medicamentos, porque o Ministério da Saúde os requisitou dos estados e das empresas produtoras e isso ficou indisponível para a distribuição. O que foi enviado pelo Ministério da Saúde hoje dá para dois dias”, alertou.

Com isso, o governo federal, que não centraliza as decisões de combate à covid no Brasil desde o início do surto, agora impede também a organização pelos estados, a exemplo de São Paulo. “O que fizemos ao longo dessa semana, principalmente entendendo uma demanda maior do estado: antecipamos compras. Fizemos compra emergencial e atingimos um certo nível de conforto em relação ao que se vê nas redes municipais. Mas não temos mais”, completou o secretário.

O relato foi confirmado pelo vice-governador, Rodrigo Garcia. “Uma Santa Casa no interior tinha conseguido fazer uma compra de medicamentos do kit para intubação, mas logo em seguida veio a requisição federal e eles perderam esses medicamentos. A falta de coordenação nacional tem cobrado um preço alto do Brasil”, contou, sem detalhar o município.


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