Pandemia

Infectados com variante brasileira da covid-19 têm carga viral 10 vezes maior, aponta estudo da Fiocruz

Pesquisa destaca ainda que o relaxamento das medidas restritivas contribuiu para a disseminação da nova cepa

Itamar Crispim/Fiocruz
Itamar Crispim/Fiocruz
Estudos apontam que variante P.1 tem maior potencial de transmissibilidade

São Paulo – Estudo elaborado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado neste sábado (27) demonstra que adultos contaminados pela variante P.1 do novo coronavírus possui uma carga viral 10 vezes maior do que a verificada em pessoas infectadas por outras cepas.

A pesquisa analisou 250 genomas SARS-CoV-2 de diferentes municípios do Amazonas, com amostras colhidas entre março de 2020 e janeiro de 2021. “A primeira fase de crescimento exponencial foi impulsionada principalmente pela disseminação da linhagem B.1.195, que foi gradualmente substituída pela linhagem B.1.1.28. A segunda onda coincide com o surgimento da variante de preocupação (VOC) P.1 que evoluiu de um clado B.1.1.28 local no final de novembro e rapidamente substituiu a linhagem parental em menos de dois meses”, relata o texto. A pesquisa ainda não recebeu nenhuma revisão por outros cientistas.

“A comparação dos pacientes mostra claramente que infecção por P.1 gera maior carga viral em adultos. Em idosos a significância foi pequena ou nenhuma. Talvez porque nossa amostragem era menor nesse grupo ou porque esses indivíduos são igualmente vulneráveis a todas linhagens”, escreveu em seu perfil no Twitter um dos autores do estudo, o epidemiologista Tiago Gräf.

Os pesquisadores também destacam no estudo que “a falta de distanciamento social eficiente e outras medidas de mitigação provavelmente aceleraram a transmissão precoce do VOC P.1”. Assim, a alta transmissibilidade da variante alimentou ainda o rápido aumento de casos de SARS-CoV-2 e hospitalizações observados em Manaus. Nos primeiros 54 dias de 2021, o número oficial de mortes pela covid-19 no Amazonas foi de 5.288, superando o total do ano passado, quando 5.285 morreram em função da doença.

“A fraca adoção de intervenções não farmacêuticas, como ocorreu no Amazonas e em outros estados brasileiros, representa um risco significativo para o contínuo surgimento e disseminação de novas variantes. A implementação de medidas de mitigação eficientes combinadas com vacinação em massa será crucial para controlar a disseminação de VOCs da SARS-CoV-2 no Brasil”, alerta o estudo.

Leia também:

Em dia de fila para vacina, óbitos têm recorde semanal. Casos superam 10,5 milhões