"Idadismo"

‘Se tivéssemos população idosa como na Europa, estaríamos com 500 mil mortos’

Epidemiologista e gerontólogo Alexandre Kalache alerta que idosos são as principais vítimas do atraso da vacinação contra o novo coronavírus

Pref Caruaru/Fotos Públicas
Pref Caruaru/Fotos Públicas
Cepa delta derruba a eficácia das primeiras doses das vacinas. Estudos recentes apontam que outra variante, a lambda, identificada na Colômbia, também pode impactar na eficiência das vacinas

São Paulo – Para o epidemiologista e gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), o plano de vacinação brasileiro contra a covid-19 é uma “tragédia anunciada”. Os principais prejudicados pelo atraso na aplicação das vacinas são os idosos, de acordo com o especialista. Ele atribui ao que chamou de “idadismo” o “descaso” do governo de Jair Bolsonaro à vida da população acima dos 60 anos.

Segundo Kalache, Bolsonaro desacreditou as medidas de combate à doença, como o isolamento social e o uso de máscaras, porque as principais vítimas da covid-19 são os idosos, encarados como um “peso morto” para o governo.

“Chegamos a esse escândalo. Apesar de termos uma população relativamente mais jovem do que Espanha, Itália, Inglaterra e os próprios Estados Unidos, estamos com 225 mil mortes, segundo maior número. Se tivéssemos a composição de idade que têm os países europeus, provavelmente estaríamos com 500 mil mortos”, afirmou Kalache, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (2).

O principal erro do governo, de acordo com ele, foi ter apostado numa só vacina. Além disso, só começaram efetivamente a agir na busca pelos imunizantes por pressão. “Se não fosse o governo de São Paulo, através do Instituto Butantan, que fez acordo com o laboratório chinês, estaríamos na mão de apenas uma iniciativa”. Na sua opinião, o ideal seria o Brasil ter apostado no desenvolvimento da sua própria vacina.

Eficácia para idosos

Outro exemplo de “idadismo”, segundo o médico, é que a maior parte das vacinas desenvolvidas contra o novo coronavírus não foram testadas suficientemente em populações com mais de 60 anos, o que vem levantando dúvidas sobre a eficácia desses imunizantes para tal faixa etária, a mais suscetível à doença.

“Se quiséssemos descobrir uma vacina para caxumba, por exemplo, doença típica de criança, fazendo ensaios só com adultos, não vamos saber se funciona. É o que a gente está fazendo. Fizeram ensaios com os adultos esperando que talvez quem tenha 70, 80, 85 anos também tenha uma resposta favorável”, destacou Kalache. “Não é assim que se faz.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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