Doria anuncia ‘toque de restrição’ na madrugada, após SP ter recorde de internações por covid-19
Doria culpa exclusivamente festas e eventos clandestinos entre 23h e 5h pelo agravamento da pandemia para criar toque de restrição. Faltou incluir a volta às aulas sem segurança, além de não ter impedido as aglomerações do fim de ano
Publicado 24/02/2021 - 15h54
São Paulo – O estado de São Paulo bateu hoje (24) um novo recorde de pessoas internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com covid-19: 6.657, o maior número de toda a pandemia. Foram 600 pessoas internadas em UTI nos últimos 10 dias. Nesse ritmo, o sistema de saúde do estado pode ter colapso em cerca de 20 dias. Como resposta, o governador João Doria (PSDB) anunciou, também hoje, um “toque de restrição”, válido das 23h às 5h, todos os dias, a partir da próxima sexta-feira (26). O objetivo é impedir festas clandestinas e aglomerações em ruas, praças e outras áreas coletivas, situações que o governo paulista considera entre as principais responsáveis pelo aumento de internações em razão da covid-19.
A medida será aplicada em parceria entre Vigilância Sanitária, Polícia Militar e Fundação Procon. Na prática, o que muda é que as pessoas que estiverem circulando nas ruas no período do “toque de restrição” poderão ser abordadas pela PM e, se não estiverem em um “deslocamento justificável”, poderão ser autuadas. Doria disse que o transporte coletivo não será interrompido, mas reduzido. Também explicou que pessoas que estiverem circulando em busca de atendimento de saúde, voltando do trabalho ou da escola, por exemplo, não serão autuadas.
Já estabelecimentos ou pessoas que estiverem promovendo festas ou aglomerações poderão ser multados em até R$ 10 milhões e processados. A medida vale também para áreas comuns de condomínios. Antes, o local recebia apenas uma advertência e, se reincidisse, poderia ser fechado temporariamente. Porém, as pessoas que estiverem participando das festas continuarão não sendo multadas. Doria pediu que a população acione a polícia contra aglomerações e festas nas vizinhanças.
Medidas vazias
O coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, Paulo Menezes, justificou a medida e disse esperar que a situação melhore em duas semanas. “Durante o dia, as atividades predominantes são de trabalho, a maior parte das pessoas usa máscara e segue as recomendações de higiene. Mas temos visto pioras muito rápidas de cidades que estavam relativamente tranquilas em relação à ocupação de UTI. Em uma ou duas semanas vimos a situação se agravar severamente”, afirmou. Ele também cogitou que é possível que novas variantes do coronavírus estejam circulando no estado.
No entanto, o “toque de restrição” anunciado por Doria não muda praticamente nada do que já está estabelecido no estado por meio do Plano São Paulo, para o funcionamento do comércio e dos serviços. Hoje, mesmo na fase amarela, serviços não essenciais – shoppings, bares, restaurantes, barbearias, academias – só podem funcionar até as 22h. Na fase laranja, serviços não essenciais só podem funcionar até as 20h. E na fase vermelha, esses serviços não podem abrir em nenhum horário.
Bares não podem funcionar nas fases vermelha e laranja e só podem ficar abertos até as 20h, na fase amarela. As aglomerações já são proibidas em qualquer horário.
Além disso, o governo ignorou que a volta às aulas presenciais se deu praticamente no mesmo período em que as internações voltaram a subir, após um curto período de redução. Mais ainda, o governo Doria não cita as imensas aglomerações ocorridas em dezembro, para as compras de natal – quando manteve a fase amarela e se negou a impor medidas mais restritivas –, e depois nas praias, durante as festas de Natal e Ano Novo.
Situação grave
Dados do Boletim Coronavírus mostram que, desde a última sexta-feira (19), 13 das 17 regiões de saúde do estado tiveram aumento da ocupação de UTI para atendimento de pessoas com covid-19. Naquele dia, havia 6.147 pessoas em UTIs. Hoje são 6.657. Só ontem foram 1.615 internações. A média móvel de internações por dia está em 1.643.
Leia mais:
- Brasil tem 1.386 mortos em um dos dias mais letais da covid-19
- Grávida de 8 meses, professora de São Caetano é internada com covid-19 após volta às aulas
- Professora da rede estadual é primeira vítima da covid-19 na volta às aulas em São Paulo
- São Paulo tem o maior número de pessoas em UTI com covid-19 de toda a pandemia