Anticientífico

‘Não dá para levar em consideração o que negacionistas falam sobre a vacina’

Célia Regina Costa, secretária-geral do SindSaúde-SP, cita o ressurgimento do sarampo no Brasil como um dos efeitos negativos do discurso negacionista

Reprodução/TVT
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Rusgas com a China também podem afetar o fornecimento de insumos para o envase das vacinas no Brasil

São Paulo – Aos trancos e barrancos, a vacinação contra a covid-19 começou em diversas partes do Brasil nesta segunda-feira (19). Com problemas de logística, houve atraso na entrega do primeiro lote das vacinas em pelo menos 19 estados. Apesar das mais de 210 mil mortes causadas pela doença, o discurso contra a vacina por parte de negacionistas, estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro, coloca em risco os esforços de imunização no país.

Para Célia Regina Costa, secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos na Saúde do Estado de São Paulo (SindSaúde-SP) e secretária de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), as pessoas que se esforçam para negar a eficácia da coronavac “perderam a humanidade”.

A mais recente versão do discurso do discurso de negacionistas contra a vacina mostra que a coronavac não seria segura para idosos, pois foi testada num grupo reduzido para essa faixa etária. Mais do que considerar indícios científicos, trata-se de um esforço para desacreditar a vacina, colocada em suspeição por Bolsonaro nos últimos meses.

“Não dá para levar em consideração os negacionistas sobre a vacina, aqueles que negam qualquer tipo de avanço da ciência. É claro que é um vírus muito novo. Toda a sociedade científica está estudando essa vacina. Ela vai ter que ser ajustada, porque o vírus vai se transformando. Mas a vacina tem uma eficácia bastante importante”, afirmou Célia Regina, em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta terça-feira (19).

De acordo com a secretária do SindSaúde-SP, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, vai “no mínimo” servir para reduzir a “tragédia humana” que tem sido a perda de milhares de vidas causadas pela pandemia. “As pessoas que estão dizendo isso é porque nunca entraram num hospital. Não viram a batalha que estamos travando contra o vírus pela vida das pessoas”, destacou Célia Regina.

Mau exemplo

Como exemplo dos efeitos negativos do discurso antivacina, Célia Regina citou o surto de Sarampo no Amapá. A doença havia sido erradicada no país, em 2016. Mas voltou, nos últimos anos, também em decorrência da redução nos investimentos em saúde pública, além da descrença alimentada por grupos negacionistas. “Um país que sempre esteve na frente em todo o mundo, com um programa de vacinação exemplar para toda a população. Mas infelizmente algumas pessoas negam as vacinas.

Geopolítica da vacina

Além do negacionismo, outra preocupação é a falta de insumos no mercado internacional para a produção de vacinas. Após envasar cerca de 10 milhões de doses da vacina importada da China, o Instituto Butantan aguarda a chegada de mais um lote da China. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que vai produzir o imunizante desenvolvido pela Universidade Oxford, em parceria com o laboratório AstraZeneca, também aguarda a chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), que deve vir da Índia.

Nesse sentido, Célia Regina lamentou a orientação diplomática do atual governo, que refreou o processo de integração dos BRICS – bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, em prol de um alinhamento automático com os Estados Unidos. Não bastasse isso, pessoas próximas ao governo, como o deputado Eduardo Bolsonaro, mantêm postura de confronto com os chineses.

Dada a competição acirrada por esses insumos entre as farmacêuticas que estão fabricando a vacina, esses choques diplomáticos com os chineses também podem colocar em risco os planos de imunização no Brasil. “É um contrassenso desprezar a política dos BRICS, que tinha sido muito importante para o Brasil, no intercâmbio comercial e também científico”, criticou a secretária do SindSaúde.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Cida Oliveira


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