politicagem da vacina

Doria detalha vacinação contra covid-19 e critica demora da Anvisa

Pandemia se agravou em São Paulo, com aumento de mais de 40% em casos e mortes. Início da vacinação contra covid-19 segue prometido para 25 de janeiro

Divulgação/Governo SP
Divulgação/Governo SP
Governo paulista critica Anvisa por atraso na vacinação

São Paulo – O governo de São Paulo planeja realizar a vacinação contra covid-19 aos finais de semana e feriados e estender o horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e outros locais que venham a ser utilizados na campanha. Detalhes do Plano Estadual de Imunização apresentados hoje (11) estipulam que a vacinação tenha início em 25 de janeiro e ocorra em 5.200 unidades de saúde, nos 645 municípios paulistas, de segunda a sexta, das 8h às 22h, e finais de semana e feriados, das 8h às 18h. Os locais de vacinação poderão ser expandidos até 10 mil pontos, com a utilização de escolas, quartéis da Polícia Militar, estações de trem, terminais de ônibus, farmácias e sistema drive-thru.

O governo paulista destacou que toda a logística de distribuição está pronta e que já está de posse de 10,8 milhões de doses da vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac, e que espera apenas a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a vacinação contra a covid-19.

Serão utilizados 70 caminhões refrigerados e 25 centros de distribuição regional, que poderão distribuir até 2 milhões de doses da vacina por semana. O governo estima que 52 mil profissionais de saúde vão atuar na campanha, mas não disse se serão contratados mais trabalhadores para suprir o horário estendido.

No entanto, a data de início da campanha de vacinação contra a covid-19 ainda é incerta. Isso porque, embora governo paulista diga que vai iniciar a imunização em 25 de janeiro, o Instituto Butantan assinou um compromisso com o Ministério da Saúde para repassar 100% da produção da Coronavac para o Programa Nacional de Imunização. Com isso, a definição da distribuição e prazos fica sob critérios do governo federal.

Disputa política da vacinação

A principal barreira para o início da vacinação contra a covid-19, no entanto, parece ser a aprovação da vacina Coronavac na Anvisa. A documentação para aprovação de uso emergencial do imunizante foi protocolada eletronicamente na última sexta-feira (8). Mas a agência alegou que faltaram documentos e emitiu uma nota pública informando que havia solicitado os mesmos ao Instituto Butantan. O governo paulista, no entanto, nega que tenham faltado documentos e insinua que está havendo um atraso por razões políticas.

“O Butantan encaminhou um relatório de 10 mil páginas para a Anvisa. Qual a razão que uma instituição consolidada e de projeção internacional não encaminharia informações suficientes para a validação de uma vacina à Anvisa? O que difere a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) do Butantan? Por que uma vacina está ok, os dados estão completos, perfeitos, e a Anvisa ainda anuncia que pode antecipar a aprovação da vacina da Fiocruz, que pertence ao governo federal, enquanto a vacina do Butantan, que pertence ao governo de São Paulo, a relutância e o grau de exigência sobem?”, questionou o governador João Doria (PSDB).

A Fiocruz, ligada ao governo do presidente Jair Bolsonaro, participa do desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 em parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. O que se avalia nos bastidores é que, pressionado pela urgência da vacinação contra a covid-19, Bolsonaro quer ter o ganho político de anunciar que a vacina apoiada pelo governo federal foi a primeira a ser aplicada no Brasil. E, por isso, a Anvisa estaria empenhada em aprovar a vacina Oxford/Fiocruz primeiro.

Apesar da reclamação de Doria, o governo paulista até agora não divulgou todos os dados da fase 3 do estudo da Coronavac, o que tem sido amplamente criticado por pesquisadores e especialistas em saúde pública. O governador anunciou que a vacinação contra a covid-19 com a vacina produzida pelo Instituto Butantan teria 78% de eficácia contra casos leves, bem como 100% contra casos graves, internações e mortes. No entanto, esse percentual condiz a recortes específicos do estudo e não representa a eficácia global do imunizante, estimado por pesquisadores em 64%.

Isso significa que 64% das pessoas vacinadas não seria contaminada pela doença, o que é um número considerado excelente por especialistas em saúde. Principalmente associado ao fato de que nenhum participante dos estudos, que recebeu a vacina, foi internado ou morreu. Para o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, João Gabbardo, essa informação é irrelevante no momento. Para ele, considerando a proteção contra casos graves, internações e mortes, “a aplicação da vacina pode ter grande impacto nas mortes de idosos, que correspondem a 75% do total”.

Agravamento da pandemia

Enquanto a vacinação contra a covid-19 não é definida, a pandemia em São Paulo se agrava a cada dia. Apenas nos últimos 28 dias, houve aumento de 44% no número de novos casos, 41% nas mortes e 10% nas internações. Se considerada apenas a última semana, o aumento é ainda pior: 63% nos casos, 49% nas mortes e 15% nas internações.

A ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para atendimento de pacientes com covid-19 subiu de 40%, no início de dezembro, para 65% hoje. No sábado, São Paulo teve o maior número de internações em um único dia dos últimos cinco meses. Foram 1.823 pessoas internadas em todo o estado. Uma situação equivalente só ocorreu em 12 de agosto de 2019, quando foram internadas 1.856 pessoas em um único dia.

Na Grande São Paulo, o número de novos casos cresceu 51,4% na última semana. E o número de mortes cresceu 56,4%. A região também bateu recorde de internações em um único dia: no sábado foram internadas 1.007 pessoas com covid-19. Número semelhante só ocorreu em 15 de agosto do ano passado, quando 1.042 foram internada com a doença.