Pandemia

Vacina contra covid-19: Congresso tem de tomar as rédeas, defende deputado

País testa cinco vacinas contra covid-19. Para ex-ministro, Congresso deve rejeitar corte de R$ 35 bilhões no SUS e garantir vacina para toda população

Lula Marques
Lula Marques
Padilha: Plano do governo Bolsonaro pode deixar população sem vacina contra covid-19

São Paulo – O Congresso tem de tomar as rédeas de um plano que garanta vacina contra a covid-19 para toda a população brasileira, defende o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). “Se depender do governo Bolsonaro, vai sair um plano ridículo, como tem sido apresentado até agora. Que ninguém sabe quando começa, quando termina e que no final não vacina nem um terço da população”, disse em entrevista à RBA.

Integrante da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid da Câmara, que esteve reunida hoje (8) durante todo o dia, Padilha falou em “inverdades” do governo de Jair Bolsonaro. Isso porque o governo anunciou que garantiria 70 milhões de doses da vacina do laboratório Pfizer, mas sem apresentar um cronograma do início da imunização.

“Desses 70 milhões de doses, talvez cheguem apenas 8,5 milhões no segundo trimestre. O governo federal está demorando para incorporar a vacina da Pfizer e a gente pode ficar sem vacina para toda a população”, disse, referindo-se à participação de representantes da farmacêutica na reunião da Comissão.

Cinco vacinas contra covid-19

A vacina BNT162b2, produzida em parceria entre a norte-americana Pfizer e a alemã Biontech, começou a ser testada no Brasil em junho em pouco mais de 3 mil voluntários. Seria a opção “preferida” do governo federal. Mas Ainda não foi firmado acordo para a transferência de tecnologia para o Brasil.

Outra vacina contra covid-19, a ChAdOx1 nCoV-19, também está em teste no país desde junho, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É produzida pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford. Conta com 10 mil voluntários brasileiros e será fabricado no Brasil pela Fiocruz/Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Já vacina CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac, é testada no Brasil pelo Instituto Butantan, com mais de 13 mil voluntários. Está em fase final de testes. Ainda aguarda registro e autorização da Anvisa para uso, mas já foi anunciada pelo governo de São Paulo para 25 de janeiro.

Além de São Paulo, outros governos estaduais firmaram parcerias próprias. A Sputnik V, do laboratório russo Gamaleya, que não está entre as quatro vacinas testadas no Brasil, é negociada à parte por Paraná e da Bahia. E segundo a farmacêutica belga Janssen-Cilag, do grupo Johnson & Johnson, sua vacina AD26.COV2.S, já estaria também sendo testada em 28 centros de pesquisa no Brasil, distribuídos em 11 estados.

Guerra da vacina

Para o parlamentar, Bolsonaro é movido “pelo ódio”. Tanto que pretende fazer uma “guerra da vacina” em meio à proposta de corte de R$ 35 bilhões no orçamento do Ministério da Saúde para 2021. E que o Congresso, que já recebeu o projeto de lei orçamentário, tem ainda a responsabilidade de garantir recursos. “Não pode faltar dinheiro para o SUS no ano que vem, é preciso garantir a vacina para toda a população”, disse. Ele destaca ainda a necessidade de aprovação, pela Câmara, do Projeto de Lei (PL) 4.023. Trata-se de projeto que define diretrizes sobre a distribuição de vacinas contra a covid-19. O PL teve emenda da bancada do PT no Senado, assegurando vacinação gratuita e universal.

O ex-ministro disse que o Brasil não pode ser refém de apenas uma vacina contra covid-19, como quer Bolsonaro, mas participar de todos os projetos. Isso porque há diferenças entre os imunizantes quanto à eficácia em grupos específicos, faixas etárias, contra-indicação para gestantes ou crianças. E até mesmo quanto ao ritmo de produção. Daí a necessidade de um plano de vacinação que contemple todas as vacinas disponíveis.

“A Fiocruz, em parceria com a Oxford, poderá produzir 15 milhões de vacinas por mês só a partir do segundo trimestre de 2021. Isso é insuficiente para vacinar toda a população que precisamos vacinar no primeiro semestre do ano que vem para estancar a progressão da pandemia. É fundamental incorporar todos os tipos de vacina e colocar a Anvisa para trabalhar de forma ágil, rápida e de forma responsável. E registar o mais rápido possível as vacinas a partir dos dados de eficácia e de segurança que cada uma delas tem”, disse.

Edição: Paulo Donizetti de Souza


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