Irregular

Hospital do Servidor de São Paulo coloca médicos ainda em formação na linha de frente da covid-19

Profissionais contratados emergencialmente foram dispensados e médicos residentes foram destacados para atender casos de covid-19 no Hospital do Servidor

Reprodução / Wikipedia
Reprodução / Wikipedia
Servidores protestam nesta quinta contra sucateamento do Iamspe e do hospital onde faltam profissionais e serviços já são terceirizados

São Paulo – O Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo está colocando na linha de frente do atendimento de pacientes com covid-19 médicos que ainda estão em processo de formação profissional – cumprindo a chamada residência médica. Muitas vezes, os residentes atuam fora de sua área de especialização, em carga horária extra, sem remuneração além da bolsa recebida. “Para se ter uma ideia, residentes que deveriam atuar apenas em laboratório estão sendo colocados para atenderem pacientes na enfermaria, sem supervisão direta ou treinamento”, relata Victor Dourado, presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo (Simesp).

Segundo Dourado, desde o início da pandemia os médicos residentes de diversas especialidades do Hospital do Servidor foram escalados para atuarem nas unidades de terapia intensiva e enfermarias de covid-19. Em maio, foram contratados médicos terceirizados para suprir essa demanda. Mas em novembro os contratos foram encerrados. “Com isso, os residentes voltaram à atuação nos casos graves de coronavírus, prejudicando assim o ensino, já que a residência é uma pós-graduação, que deveria ser para aprendizado na vivência da área alvo de estudo”, criticou Dourado, que defende a contratação de mais médicos em caráter emergencial.

Um médico residente, que pediu para não ser identificado, confirmou que os profissionais em formação estão sendo colocados na linha de frente da covid-19 no Hospital do Servidor. “Não temos escolha. A escala vem sendo imposta sem diálogo, por conta do déficit de médicos do Hospital do Servidor. Profissionais de áreas totalmente desconexas, atendendo UTI, enfermaria, sem formação adequada. Ao mesmo tempo que a nossa formação fica de lado. O hospital encerrou os contratos emergenciais bem em meio às notícias de que a pandemia está se agravando. É um absurdo”, afirmou.

Em nota, o Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) admitiu a prática, não se manifestou sobre a recontratação de médicos já formados, e também criticou os médicos residentes. Leia:

“O HSPE lamenta que, em meio à maior crise sanitária da história recente da medicina, profissionais que se preparam para salvar vidas possam ser contrários à dedicação a pacientes de qualquer que seja a doença. Em todo o mundo, vítimas da Covid-19 têm prioridade máxima, bem como os casos graves de doenças como câncer, gestação de risco, entre outras como urgências e emergências. Assim, os médicos residentes do HSPE estão contribuindo na prática para atender as necessidades socioepidemiológicas da população sob a devida supervisão e orientação de profissionais qualificados.

Os programas de residência nas áreas de saúde estão cumprindo um papel fundamental tanto no atendimento aos pacientes quanto na pesquisa e na inovação visando à prevenção, o diagnóstico e o controle da Covid-19. Não houve suspensão das atividades dos programas de residência e, sim, ajustes frente às demandas atuais.

O compromisso em mobilizar toda a equipe de especialistas e não-médicos para prestar assistência na pandemia foi acordado entre o Comitê de Combate à Covid-19, composto por membros da Associação dos Funcionários do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Afiamspe) e da Associação Médica do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Amiamspe) e independeu do contrato emergencial de profissionais por seis meses. A direção do hospital segue atenta à evolução de casos e, se necessário, poderá adotar novas medidas, o que inclui nova contratação emergencial de profissionais”.


Leia também


Últimas notícias