São Paulo – Sem a participação do governador paulista, João Doria (PSDB), que saiu de férias, o Comitê de Contingência do Coronavírus anunciou hoje (22) que todo o estado de São Paulo terá uma fase vermelha temporária, nos dias 25, 26 e 27 de dezembro e 1, 2 e 3 de janeiro. Nesses dias, só os serviços essenciais poderão funcionar. Fora deles, segue valendo a atual fase amarela, menos restritiva. A expectativa do governo Doria é que isso seja suficiente para desacelerar a proliferação do novo coronavírus, diminuindo o número de novos casos, internações e mortes, que vem aumentando gravemente nas últimas quatro semanas. Especialistas em saúde, no entanto, duvidam da eficiência da medida.

O estado de São Paulo registrou 50.596 novos casos e 1.108 mortes causadas pela covid-19 na última semana (13 a 19 de dezembro). O crescimento do número de novos casos chegou a 55% e o de mortes a 41% no último mês. A taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) está em 61,9% no estado. Apesar da piora na situação, Doria tem evitado intensificar as medidas da quarentena. Tanto que ontem (21) seria o dia para anunciar as medidas sobre a pandemia, mas o anúncio foi adiado para preservar a imagem do governador.

O coordenador do Centro de Contingência, Paulo Menezes, afirmou que a fase vermelha temporária em todo o estado de São Paulo vai conter a proliferação da covid19. “Nesse momento nós entendemos que essas são as medidas que precisam ser tomadas para diminuir a velocidade de transmissão do vírus”, disse. No entanto, ao menos nos dias 25 de dezembro e 1º de janeiro, a imensa maioria dos comércios e serviços já não abriria de qualquer forma.

Sinal de alerta

O secretário-executivo do grupo, João Gabbardo, no entanto, admitiu que a fase vermelha temporária em São Paulo vai funcionar mais como “um sinal para a população”. “Temos que mostrar que a recomendação é ficar em casa. Se nós não conseguirmos ter redução do número de casos, internações, essa pode ser uma sinalização do que vai ocorrer mais pra frente”, afirmou.

Gabbardo também admitiu que o governo paulista dificilmente vai conseguir ampliar o sistema de saúde como fez no período inicial da pandemia, entre março e julho. “Se continuar com esses níveis (de evolução da pandemia), podemos enfrentar um colapso do sistema de saúde em breve. Temos dificuldade com a disponibilidade de profissionais. Muitos falam em abertura de leitos em hospitais de campanha. Se abríssemos nesse momento teríamos muita dificuldade em contar com os profissionais necessários para cobrir os plantões necessários”, disse.

Parte do problema se dá pela necessidade de atender pessoas que possuem outros problemas de saúde, como câncer, problemas cardíacos, e que tinham ficado em casa na fase inicial da quarentena, mas agora precisam de cuidados médicos. Além disso, houve retomada da maior parte dos setores da economia, aumentando a circulação das pessoas, levando, por exemplo, a ocorrências de um número maior de acidentes, o que também impacta os serviços de saúde.

Problema dos prefeitos

Apesar das medidas anunciadas hoje, o governo paulista empurrou aos municípios a responsabilidade de conter aglomerações em pontos turísticos e praias. No último final de semana, mais uma vez, houve vários registros de praias lotadas e pessoas sem máscara no litoral paulista. Fora do dias específicos de Natal e Ano Novo, fica valendo a fase amarela em todo o estado, incluindo as atrações turísticas. A exceção é a cidade de Presidente Prudente, que atingiu 83% de ocupação de UTI e vai ficar na fase vermelha de amanhã até 7 de janeiro, quando será realizada a próxima classificação.

“As municipalidades devem evitar as aglomerações. O que temos visto é que medidas como evitar aglomerações acabam não acontecendo. As pessoas não podem entender que nós voltamos ao normal. Acreditam que estão ao ar livre, estão seguras, mas se aglomeram junto aos guarda sóis, comem, bebem, riem, sem máscara, e isso é um cenário ideal de transmissão do vírus”, disse o secretário de estado da Saúde, Jean Gorinchteyn.

Especialistas em saúde consideram que as medidas anunciadas são insuficientes para conter o avanço e o maior agravamento da pandemia. O ex-ministro da Saúde e médico sanitarista, Artur Chioro, avaliou as medidas anunciadas como absurdas. “Não têm coragem para tomar as medidas que a gravidade exige”, afirmou. O médico infectologista Gerson Salvador considera necessárias medidas de maior restrição, mas avalia que o formato é inadequado. “O prazo limitado demonstra alguma arbitrariedade na escolha. O agravamento da pandemia se resolve em alguns dias?”, questionou.