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Governo Doria contesta reportagem da RBA sem explicar distorções sobre internações

Em vez de esclarecer sobre inconsistências em sua base de dados sobre a covid-19 no estado, Secretaria de Saúde prefere desqualificar a RBA, cinco dias depois da reportagem publicada

GovSP
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Governo Doria não explica números de casos em fontes oficiais que poderiam levar regiões de São Paulo à fase laranja, mais restritiva, de proteção contra a covid-19

São Paulo – Após cinco dias do pedido de esclarecimentos sobre a omissão de 2.506 internações por covid-19 e a inoperância do sistema após o contato da RBA, a Secretaria de Estado da Saúde do governo de João Doria (PSDB) enviou uma nota sobre o caso solicitando sua publicação íntegra. A nota, porém, apenas tenta desqualificar a reportagem, em vez de explicar o ocorrido com transparência.

Na reportagem de Rodrigo Gomes, que pode ser lida aqui, a RBA informa que dados do Censo Covid mostravam que havia 12.195 pessoas internadas com covid-19 na rede pública paulista e não 9.689, como informado pelo governador na segunda-feira (30). Doria usou estes números para recuar todo o estado para a fase amarela de isolamento, menos restritiva. Para tanto, a reportagem checou as planilhas do próprio sistema de informação oficial, encontrando números que haviam sido desconsiderados pelo governo para justificar que a quarentena não fosse imediatamente para a fase laranja, como indicava a gravidade do quadro em diversas regiões do estado.

Diz um trecho da nota: “A reportagem do Portal Rede Brasil Atual intitulada “Doria omitiu 2.506 internações por covid-19 para recuar São Paulo apenas à fase amarela” é incorreta e repleta de ilações. O Governo de São Paulo jamais omitiu dados. Tanto é que os publica com total transparência no site http://saopaulo.sp.gov.br/coronavirus, lançado ainda em janeiro, muito antes da primeira confirmação de caso da doença no Estado. Nesse mesmo site são divulgadas estatísticas diárias com relação à doença, atualizadas todos dias da semana – úteis, finais de semana e feriados. Da mesma forma, há dados abertos e disponíveis para download no SIMI (Sistema de Monitoramento Inteligente), em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/planosp/simi/”.

Sendo todos os dados produzidos pelo governo paulista, era esperado que houvesse coerência entre os dois sistemas. No entanto, o que a reportagem da RBA constatou é que os informes fornecidos não batem. Inclusive, após o envio da nota, a reportagem acessou o sistema do Censo Covid e os números continuam discrepantes. Enquanto o Boletim Diário do governo Doria informa que ontem (7), as 10h30, havia 10.095 pessoas internadas, sendo 5.710 em enfermaria e 4.385 UTI, os dados do Censo Covid mostram apenas 4.010 pessoas internadas, sendo 2.256 em enfermaria e 1.754 em UTI, as 11h49 do mesmo dia.

A nota enviada pela Secretaria de Saúde continua: “Os dados apresentados pelo Secretário em coletivas estavam corretos. A divergência constatada pela reportagem decorreu de uma falha técnica – já solucionada – que havia resultado num número de pacientes internados em hospitais específicos incompatíveis com a real capacidade do local. Infelizmente, a reportagem sequer se atentou a estes dados. Se tivesse respeitado o ‘outro lado’, como preza o bom jornalismo, o Portal teria inclusive contribuído para a retificação dos dados”.

O “outro lado”

A RBA esclarece, porém, que enviou o primeiro e-mail com os questionamentos no dia 2 de dezembro, as 17h05. Em seguida, a pasta entrou em contato com a reportagem pedindo esclarecimentos. Após a conversa, foi encaminhado um segundo e-mail, às 18h50 do mesmo dia, com o mesmo pedido.

A reportagem então entrou em contato com a assessoria por telefone avisando do envio do e-mail. Em nenhum momento a assessoria da Secretaria da Saúde disse que o número de internações era incompatível com o número de leitos. Mais que isso: sem fazer nenhum pedido de prorrogação do prazo de resposta, a SES só respondeu ontem (7), as 19h54.

Somente após a publicação da reportagem – vencido o prazo de resposta – a secretaria, por meio da assessoria, entrou em contato com a reportagem por telefone, dizendo que se manifestaria. E, novamente, em nenhum momento informou que o número de internações era incompatível com o de leitos. As conversas estão gravadas.

“O Estado jamais ‘criou aparência de menor gravidade’. Tanto é que todas as regiões passaram para a fase amarela do Plano São Paulo na reclassificação feita na semana passada, de forma a manter o alerta e as medidas de controle e prevenção da COVID-19, com a prorrogação da quarentena que vigora desde março em SP. Outra prova da transparência é que os números de testes de COVID-19 estão também disponíveis no SIMI, alimentado periodicamente e ainda neste mês o balanço será atualizado. Dados preliminares já apontam crescimento de aproximadamente 25% na produção de exames na rede de saúde, o que reitera o monitoramento da pandemia realizado em SP” – conclui a nota.

Embora o governo tenha passado as regiões que estavam na fase verde para a fase amarela, utilizou-se apenas da comparação de dados de duas semanas, ignorando que as regiões estavam na fase verde desde 10 de outubro. Se tivesse considerado todo o período, a grande São Paulo teria passado para a fase laranja. Além disso, o Placar de Testes do governo Doria está desatualizado, com a última inserção de dados tendo sido feita no dia 19 de novembro, conclui a RBA.


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