Festa na pandemia

País perto de 6 milhões de casos de covid-19; classes A e B aceleram contaminação em São Paulo

Para coordenador do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, aumento de internações pela covid-19 deve-se a comportamentos festeiros de pessoas classes de renda mais alta

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Confraternizar sem máscara é especialidade do presidente da República. Se ele "pode", por que classe média alta paulistana não poderia?

São Paulo – O Brasil registrou nesta terça-feira (17) 685 novas mortes provocadas pela covid-19. O total de vidas perdidas desde o início da pandemia, em março, chega a 166.699. A taxa de contaminação diária também não cede. Em um único dia, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) registrou 35.294 novos casos da infecção causada pelo novo coronavírus, totalizando 5.911.758 milhões de infectados.

A capital e o estado de São Paulo vêm sofrendo com aceleração dos adoecimentos nos últimos dias. Cidade mais afetada pela doença no país, São Paulo registrou ontem a internação de 408 pessoas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com covid-19. O número é o maior em quatro semanas. Os dados, da Secretaria Municipal de Saúde, põem em xeque discurso do prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), de que a pandemia está sob controle na capital paulista.

Cidade de São Paulo tem mais de 400 pessoas em UTI com covid-19, maior número em 30 dias

O estado de São Paulo também registra aumentos seguidos de novas internações há nove dias. O número de pacientes em UTI com covid-19 também cresceu: de 3.153, há um mês, para 3.372, ontem (16). Treze das 17 regiões dos estado sofrem aumento de internações.

“Festa da contaminação”

O coordenador executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, João Gabbardo dos Reis, afirma que o aumento no número de internações em decorrência da covid-19 no estado deve-se especialmente ao comportamento das classes de renda mais alta. Pessoas que durante o período de isolamento podiam ficar mais em casa hoje estariam flexibilizando demais o distanciamento e sendo decisivas para a aceleração das contaminações. “São pessoas que se contaminaram em confraternizações, reuniões, festas de casamento. É exatamente nesses locais onde as pessoas bebem, estão sem máscara, conversam e ficam muito tempo em contato. Estão saindo inadvertidamente”, disse, em entrevista à CNN Brasil.

O fenômeno pode estar se repetindo em outros estados. O Imperial College, de Londres, alertou hoje para a ameaça de retomada da pandemia de covid-19 no Brasil. Em uma semana, o índice que mede o ritmo de transmissão (Rt) subiu de 0,68 para 1,10. Segundo a universidade britânica, o Rt brasileiro pode variar de 1,05 até 1,24. Quando o Rt está acima de 1, conclui-se que uma pessoa que contraiu o vírus o transmite para mais de uma pessoa, aumentando a taxa de contaminação pelo coronavírus.

Em São Paulo, o governo de João Doria (PSDB) oficializou a prorrogação da quarentena até o dia 16 de dezembro. Mas adiou a reclassificação das regiões no Plano São Paulo, que coordena a reabertura da economia – podendo flexibilizar ou restringir a circulação de pessoas. A medida foi recebida como uma tentativa de evitar problemas para Covas, que disputa o segundo turno da eleição municipal contra Guilherme Boulos (Psol). A nova reclassificação foi marcada para 30 de novembro, um dia após a nova rodada da eleição municipal.