O HORROR

Anvisa afirma que decisão de suspender testes da Coronavac foi técnica, apesar de Bolsonaro

Agência diz não “estar contaminada pela política”. Bolsonaro chegou a comemorar possível inviabilização da mais promissora vacina contra uma doença que já matou 162 mil brasileiros

reprodução/arquivo
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Uso indevido da máquina para fraudar documentos públicos de interesse nacional "estourou bolhas" nas redes

São Paulo – Dirigentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmaram, em entrevista coletiva para explicar a suspensão dos testes da vacina para a covid-19 Coronavac, que a ação foi motivada pela comunicação de um “evento adverso inesperado”. No caso, a morte de um dos voluntários do fármaco elaborado pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã.

Horas depois da suspensão, porém, passaram a circular um grande número de informações de que a morte relatada não teve qualquer relação com a Coronavac. A ausência de nexo causal foi confirmada pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Na coletiva no início da tarde de hoje (10), A Anvisa afirmou que, mesmo ante os novos fatos, o protocolo era de suspensão dos testes, com possível retomada em poucos dias.

Mesmo os protocolos sendo comuns, o anúncio da suspensão dos testes ganhou os holofotes a partir da politização do tema pelo presidente Jair Bolsonaro. O mandatário, que indiretamente comemorou a morte do voluntário, disse que a decisão da Anvisa teria sido “mais uma que Bolsonaro ganha”. Isso, ante a possibilidade de inviabilização da mais promissora vacina contra a maior crise sanitária do país em mais de 100 anos. A pandemia já deixou mais de 162 mil brasileiros mortos desde março e segue matando.

Afeto e desafeto

Bolsonaro contamina o ambiente técnico com sua eterna campanha pela reeleição, que faz seu governo ser uma sucessão praticamente diária de ataques aos “inimigos”. O desta vez é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), potencial candidato à Presidência em 2022.

Logo após a desastrosa declaração sobre sua “vitória” contra a Coronavac, começou a surgir a hipótese de que a Anvisa teria sido levada a suspender a vacina por questões políticas. A Coronavac é a vacina atualmente em estágio mais avançado de estudos, e está sendo desenvolvida numa articulação do governo paulista, por meio do Instituto Butantan, com a Sinovac para sua produção no Brasil.

Defesa

A diretora da Anvisa Alessandra Bastos afirmou que, ao decidir pela suspensão temporária dos estudos com a Coronovac, a Anvisa ainda não tinha recebido a informação que a morte do voluntário não tinha relação com a vacina. “O que tínhamos ontem às 18h era apenas a informação de um efeito adverso grave. Não tínhamos nenhuma outra informação. Diante disso, a decisão. Naquele momento a informação era esta. A única informação. Então foi assim decidido de acordo com as regras e normas impostas”, disse.

Dimas Covas, do Butantan, lamentou a decisão, que considerou “abrupta”, tomada sem diálogo com a instituição. Questionado se houve motivação política para a decisão sumária, o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, negou. “Não precisamos de uma Anvisa contaminada por uma guerra política. Ela existe, está aí. Mas tem que ficar dos muros para fora. Não somos comentaristas nem analistas políticos.”

Edição: Fábio M. Michel


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