Drama sem fim

Prefeito de Manaus propõe ‘lockdown’ após aumento de casos da covid-19

Fiocruz já havia apontado emergência de uma segunda onda da doença na capital amazonense, cobrando regras mais rígidas de isolamento

Altemar Alcantara/Semcom
Altemar Alcantara/Semcom
Alexandre Padilha: "O colapso de janeiro em Manaus é mais uma evidência de que a imunidade de rebanho não é suficiente para conter a covid-19"

São Paulo – O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), propôs ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que seja decretado lockdown de duas semanas na capital do estado após o aumento no número de casos de covid-19. Nos últimos cinco dias, entre 24 e 28 de setembro, a secretaria municipal de Saúde de Manaus registrou 1.627 casos na capital.

O pedido do prefeito vem após pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Divulgada no final de semana, a pesquisa identifica a emergência de uma segunda onda da doença na capital amazonense. “Propus ao governador que atuemos juntos nisso. E a sugestão que dei é que nós façamos uma coisa que pode ser desagradável. Minha preocupação é salvarmos vidas aqui no Amazonas, então sou a favor do lockdown. Por entender que é recomendado pela Fiocruz , é recomendado pelo mundo científico”, disse Virgílio em entrevista à GloboNews na segunda-feira (28).

O epidemiologista Jesem Orellana, que comandou a pesquisa, já alertava desde o mês passado para a elevação contínua do número de casos. “Tenho dito isso desde o início de agosto, quando fiz questão de lembrar a todos que o papel de um epidemiologista deveria ser o de se antecipar ao desastre, e não esperar o tempo passar para descrevê-lo. Ou, no máximo, contar doentes, sequelados e mortos”, disse à RBA.

Em agosto, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), gestora dos cemitérios públicos de Manaus, confirmou 77 mortes pela covid-19, de 867 sepultamentos e cremações realizadas. Já neste mês, até o dia 27, haviam sido computados 81 óbitos pela doença, num total de 795 registros.

No total, o Amazonas contabiliza, até o momento, 4.031 mortes pela covid-19 e 136.708 casos de contaminação.

Experimento a céu aberto

Manaus foi a primeira capital do país a registrar colapso nos sistemas de saúde e funerário, já em abril. Em 29 de maio, a cidade registrava o pico da doença com 1.723 novos casos. Mas em julho, a capital e o estado começaram a flexibilizar as medidas de isolamento, retomando as principais atividades. Em agosto, o governo do estado determinou o retorno das aulas presenciais nas escolas.

As aglomerações nas praias e bares se intensificaram principalmente durante o feriado do Dia da Independência, há pouco mais de três semanas. Na última quinta-feira (24) um novo decreto estadual proibiu o funcionamento de bares, balneários, flutuantes e a realização de festas em chácaras, associações e clubes em Manaus.

Para Jansen, Manaus está sendo submetida a uma “espécie de experimento natural” para forçar a chamada imunidade de rebanho. A expectativa, aparentemente frustrada, é que o número de novos casos passaria a cair, na medida em que parte significativa da população fosse adquirindo anticorpos contra o vírus.