Momento crítico

Pandemia perde força, mas feriadão ameaça trazer retomada da covid-19

Brasil passa de 4 milhões de casos, mas número de óbitos em 24 horas fica abaixo da média das últimas 12 semanas. OMS alerta: “Não se pode fingir que acabou”

CC.0 Wikimedia
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A quarta-feira também foi marcada pelo grande número de novos casos da covid-19: foram 79.876. Desde o início do surto no país, 11.202.305 brasileiros já ficaram doentes

São Paulo – O Brasil ultrapassou hoje (3) os 4 milhões de infectados pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. De acordo com dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), são 4.040.163 de brasileiros doentes desde o início do surto, em março. Nas últimas 24 horas, o país registrou um acréscimo de 42.298 novos casos oficialmente registrados da infecção.

Em relação ao número de mortos, o Conselho informou que foram mais 871 mortos nas últimas 24 horas. O dado ficou abaixo da média das últimas 12 semanas, que girou na casa das mil mortes diárias. Os números indicam a confirmação de que a pandemia está em fase de leve regressão no país. O total de vítimas até aqui é de 124.651.

Tal estabilidade com tendência de regressão foi confirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início da semana. Também o Imperial College de Londres, que utiliza um cálculo com base na taxa de transmissão da covid-19, informou que o Brasil, a taxa de transmissão do coronavírus no país está em 0,94, considerado abaixo do alarmante.

Entretanto, ambas as entidades alertam que os cuidados não poderiam ser abandonados . “Nenhum país pode simplesmente fingir que a pandemia acabou”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, ainda no início da semana.

Tensão aumenta

A proximidade do feriado nacional do 7 de Setembro aumenta o receio entre especialistas da área de Saúde para a possibilidade de retomada do crescimento da curva de contágio. Isso, porque o isolamento social e mínimos cuidados na contenção do vírus já foram amplamente abandonados pelos brasileiros. A expectativa é que as cenas registradas em diversas cidades no fim de semana passado se repitam neste “feriadão”: praias e parques lotados, assim como shoppings e o transporte público.

Com isso, cresce também a tendência de se repetir o comportamento da pandemia do início do mês de julho, quando a OMS declarou que o país vivia um “platô” de estabilidade e que a infecção começaria a regredir. Foi o bastante para governadores e prefeitos suspenderem as medidas de distanciamento social, que nunca chegaram a ser rigorosas. O resultado foi o recrudescimento da covid-19, que entrou em sua fase mais letal a partir de então, com cerca de 80% das mortes ocorrendo a partir da segunda quinzena daquele mês.

Profissionais de saúde

O Brasil segue como local que contabiliza mais mortos por covid-19 no mundo em média diária. Em números gerais, apenas os Estados Unidos somam mais casos e mortos. Entretanto, os norte-americanos realizam muito mais testes de sorotipo para o vírus. No Brasil, apenas cerca de 6% da população já passou por algum tipo de verificação.

Brasil e Estados Unidos também empurram as Américas para outro epicentro problemático. América do Norte, Central e do Sul somam a grande maioria dos profissionais de saúde infectados pela covid-19. São quase 570 mil trabalhadores infectados e mais de 2.500 mortos. Destes infectados, 260 mil estão no Brasil, que soma cerca de mil mortos no setor.

“Temos o maior número de profissionais de saúde infectados no mundo”, afirmou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne. “Nossos dados mostram que quase 570 mil profissionais de saúde em nossa região ficaram doentes e mais de 2,5 mil sucumbiram ao vírus”, completou.

Ação e irresponsabilidade

A diretora também afirmou que os números revelam problemas a serem combatidos. “Os países devem garantir que os profissionais de saúde façam seu trabalho com segurança. Isso exigirá a manutenção de suprimentos suficientes de equipamentos de proteção individual e a garantia de que todos sejam efetivamente treinados no controle de infecções para evitar que arrisquem sua própria saúde.”

Entretanto, no Brasil, tanto o controle e combate à covid-19 quanto a proteção aos profissionais de Saúde encontram grandes barreiras na figura do presidente Jair Bolsonaro. Ele vetou cláusulas importantes em leis emergenciais de proteção aos trabalhadores do front da batalha da maior crise sanitária dos últimos 100 anos.

Padilha: canetada de Bolsonaro é tapa na cara dos profissionais de saúde vítimas da covid-19

Entre elas, o projeto de lei que destinava pagamento de indenização de R$ 50 mil aos familiares e profissionais de saúde que atuaram no combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus e morreram ou sofreram sequelas permanentes pela covid-19.

Edição: Fábio M. Michel


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