Longe do fim

Covid-19: não é segunda onda porque Brasil nem sequer conteve a primeira

Pelo 10º dia seguido, Rio de Janeiro registra aumento na média móvel de mortos pela covid-19. Em Manaus, Fiocruz recomenda ‘lockdown’

Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil
Em mais um final de semana de calor, cariocas e turistas voltaram a lotar as praias do Rio, desrespeitando as medidas de isolamento

São Paulo – O estado do Rio de Janeiro registrou, neste domingo (27), o décimo dia seguido de aumento na média móvel de mortes pela covid-19. Amazonas, Amapá, Roraima, Bahia, Sergipe e Minas Gerais também registraram aceleração no contágio da doença. A elevação, bem como a interiorização da doença nesses estados, é vista como consequência das aglomerações que foram registradas no último feriado do Dia da Independência. “Não é uma segunda onda de covid-19, porque não temos um processo de desaceleração. A gente não conteve a pandemia, e estamos vendo diariamente o número de mortes aumentando. E, com a flexibilização, houve uma interiorização.”

O alerta é da vice-presidente do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN), Mychelle Alves Monteiro. Segundo ela, o processo de flexibilização das medidas de isolamento é “inconsequente”. Em entrevista ao programa Brasil TVT, ela também criticou a falta de articulação nacional no combate à pandemia.

Mychelle Monteiro destaca que, no Rio de Janeiro, a ocupação dos leitos de UTI chegou a 78%. E mais da metade dos leitos de enfermaria voltados para o tratamento dos infectados pela covid-19 também estão ocupados. Além disso, cidades da Baixada Fluminense já registram fila de espera de pacientes que aguardam para receber atendimento médico na capital.

Além das aglomerações nas praias, bares e restaurantes, Mychelle criticou principalmente a falta de medidas adequadas para conter a superlotação nos transportes coletivos. É uma situação que ocorre no Rio, mas é comum a muitas capitais e grandes cidades do pais.

Manaus

Pesquisa da Fiocruz constata que especificamente a capital amazonense já está vivenciando uma segunda onda da covid-19. Manaus foi a primeira capital do país a registrar colapso nos sistemas de saúde e funerário, em abril. Passado o pico, dois meses depois, as medidas de isolamento social foram flexibilizadas. Agora, dada a nova elevação no número de casos e mortes, os pesquisadores sugerem a adoção do fechamento total das atividades não essenciais (lockdown) por 14 dias.

Vacina

Para a técnica em saúde pública, o retorno às aulas presenciais, como pressionam principalmente os donos das escolas particular, não é seguro até a chegada da vacina contra a covid-19. Ela estima que em dezembro a Fiocruz deve começar a produção da vacina que está sendo elaborada pelos pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ainda assim, “se tudo der certo”, a imunização em massa só ocorreria no final do primeiro semestre do ano que vem.

“Enquanto isso a gente ainda vai ter de continuar seguindo as medidas sanitárias, o isolamento social, o distanciamento. A lavagem das mãos e uso de máscara continuam sendo fundamentais. Lembrando que ainda estamos numa pandemia. Não dá para naturalizar. São 142 mil mortes, fora o que a gente não sabe, em função da subnotificações.”

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Paulo Donizetti de Souza