Alerta

Conselhos da Saúde de São Paulo são contra a volta às aulas em outubro

Colegiados, que reúnem representantes de vários setores, se posicionaram coletivamente contra retorno às aulas em outubro, em reunião na última segunda-feira

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
Riscos de uma eventual volta às aulas são grandes e situação de vulnerabilidade das crianças poderia ser enfrentada de outras formas

São Paulo – Os Conselhos Municipal e Estadual da Saúde de São Paulo posicionaram-se oficialmente contra a volta às aulas. A previsão de retomada é em 7 de outubro. Os colegiados, que reúnem representantes de várias áreas, definiram seus posicionamentos em reuniões separadas, realizadas na segunda-feira (14). As notas técnicas ainda não foram divulgadas oficialmente, mas a RBA confirmou as decisões com integrantes dos conselhos. Para os conselheiros municipais, a retomada das atividades presenciais “coloca em risco a saúde e a vida dos profissionais da área de educação e da população paulistana em função do potencial aumento do número de casos de covid-19”.

Entre outras coisas, o conselho municipal considerou o estudo do epidemiologista Diego Xavier, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele aponta o risco de 35 mil mortes, entre pessoas do grupo de risco, com a volta às aulas prevista para outubro. “A área de educação tem um grande número de idosos e/ou adultos com problemas crônicos de saúde, que pertencem a grupos de risco de covid-19”, aponta o CMS.

“Se apenas 10% dessa população com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, isso representará cerca de 900 mil pessoas na fila das unidades de terapia intensiva (UTI)”, explica. A posição do conselho estadual segue o mesmo raciocínio e defende a volta às aulas somente em 2021.

Outro ponto destacado pelo conselho foi o posicionamento do sistema de saúde pública da Inglaterra. O NHS (na sigla em inglês) alertou sobre “o aumento de casos de pacientes pediátricos que precisaram ser internados em unidades de terapia intensiva (UTI) apresentando novos sintomas, que podem estar ligados ao coronavírus”. A situação pode ser agravada pelo fato de as crianças terem dificuldade em manter o correto distanciamento social e as medidas de higiene.

Crianças assintomáticas

O CMS também considerou os dados do inquérito sorológico realizado pela prefeitura de São Paulo. Eles mostram que as crianças são mais contaminadas e mais assintomáticas para o coronavírus do que os adultos. Segundo o estudo, quase 70% das contaminadas pela covid-19 foram assintomáticas. E enquanto cerca de 11% dos adultos já tiveram a doença, entre as crianças o número é de 18,3%. Um outro estudo aponta que até 46,35% dos estudantes e professores seriam contaminados pelo coronavírus após três meses de atividades, com a volta às aulas em outubro.

A posição é divulgada dias antes de o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciar o resultado da quarta fase do inquérito sorológico com estudantes das redes pública e privada da cidade. Esses dados serão decisivos para o executivo municipal definir se vai ou não haver volta às aulas em outubro ou esse ano. As aulas estão suspensas desde 24 de março e essa medida é considerada essencial na contenção da transmissão do coronavírus. Covas deve se pronunciar amanhã (17) sobre a volta às aulas em outubro.

Professores não aceitam volta em outubro

Para os representantes dos professores, nenhuma data para a volta às aulas em 2020 é aceitável. Nem 7 de outubro, nem nenhuma outra, sem que haja um efetivo planejamento e estruturação das unidades escolares. A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e deputada estadual, professora Bebel (PT), considerou uma vitória a posição dos conselhos.

“Mais uma batalha vencida em defesa da vida. Os professores reafirmam que continuam na luta e só voltarão às escolas após a pandemia”, disse. Bebel apresentou ao Conselho Estadual de Saúde estudos sobre a estrutura das escolas. O levantamento foi feito em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil e o Dieese. O governo paulista já iniciou uma retomada de atividades presenciais de reforço, mas a adesão foi mínima.

Para o presidente do presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem) e vereador, Claudio Fonseca (Cidadania), a posição do CMS é importante. E confirma a preocupação dos professores.

“A indicação do Conselho Municipal de Saúde vincula-se a pareceres de várias autoridade sanitárias e infectologistas apoiados em indicadores que apontam riscos em colocar em atividade presencial nas escolas cerca de dois milhões e quinhentos mil alunos somente na cidade de São Paulo”, afirmou o parlamentar. “Posicionamento cautelar, oportuno e responsável com a saúde e a vida de bebês, crianças, adolescentes e adultos matriculados nas escolas das redes de ensino. E dos profissionais de educação”, completa.


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