Contra a vida

Campanha de Bolsonaro contra vacina da covid é parte de política genocida, diz professora da UFRJ

Especialista afirma que o movimento contraria até militares, que criaram a política nacional de imunização e historicamente apoiaram vacinações contra epidemias

Reprodução/Vídeo de Eduardo Matysiak
Reprodução/Vídeo de Eduardo Matysiak
Ato de apoiadores de Bolsonaro em Curitiba contra a vacina da covid-19, em 7 de setembro

São Paulo – Na pauta dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, o movimento que age contra a vacina da covid-19 e defende a cloroquina é mais um componente da política genocida adotada pelo governo de Jair Bolsonaro em relação à pandemia. A negação da gravidade da doença causada pelo novo coronavírus, a falta de ações socioeconômicas para permitir que todos façam o isolamento social e de investimentos em equipamentos de UTIs contribuem para os mais de 4,1 milhões de casos e a morte de mais de 128 mil brasileiros. A opinião é da professora Ligia Bahia, da pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ligia é também integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

“Este movimento antivacina ligado aos defensores da cloroquina não tem nada a ver com aquele outro movimento mais antigo, naturista, alternativo. Este novo, que também acontece em todo o mundo, é muito mais perigoso e está mesmo a serviço do genocídio”, disse a professora à RBA.

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“Liberdades”

De acordo com a especialista, o movimento que defende a cloroquina – um medicamento sem segurança e comprovadamente ineficaz no tratamento da covid-19 – e que ataca as vacinas em desenvolvimento em diversos países vai além da medicina e da saúde. É político, ideológico e tem respaldo até de médicos. Por sua vez, estes são com frequência recebidos pelo governo, que faz propaganda explícita do remédio.

“A liberdade para escolher não se vacinar defendida pelo bolsonarismo é uma extensão de outras ‘liberdades’. Como de não usar máscara, usar armas, propagar o ódio, praticar todo tipo de violência. E fazer o que se quiser em um mundo que, para eles, não deve ter lei e nem Estado. Enfim, o bolsonarismo daqui é uma projeção da política de Trump nos Estados Unidos e de tantos outros países.”

Pró-vacina

Ligia considera impossível prever quais serão os impactos desse movimento contra vacina, que surge para manter em alto volume o barulho dos radicais de extrema direita apoiadores de Bolsonaro. Também não há como adiantar se terá força para aprofundar ainda mais a desinformação da população brasileira, trazendo ainda mais prejuízos. Primeiro porque, conforme lembrou, pesquisas mostram que a ampla maioria da população é favorável à vacina, tanto que o Brasil sempre teve alta cobertura vacinal. A queda da cobertura nos últimos anos, acredita, resulta da precarização do sistema público de saúde.

Além disso, ela observa, os militares sempre foram historicamente pró-vacina. Uma das poucas políticas de Estado do país em saúde pública, reconhecida internacionalmente, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado e implementado por eles. “A vacina tem muito a ver com os militares, que a veem como uma arma a ser usada contra a pandemia, a guerra a ser vencida”, compara Ligia.


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