sem controle

Covid-19 deixa mais 1.274 mortos. Após ‘platô’ e flexibilização, Fiocruz aponta ‘segunda onda’

“Narrativa de que a epidemia está controlada é falsa e irresponsável, especialmente o descaso com o distanciamento físico”, afirma pesquisador

Fernando Crispim/Amazônia Real
Fernando Crispim/Amazônia Real
Para epidemiologista, segunda onda está sendo ocultada sistematicamente

São Paulo – Boletim desta terça-feira (11) do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) relata mais 1.274 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas. Com o acréscimo, além de comprovar que a doença segue seu rastro letal pelo país, já são 103.026 vítimas do novo coronavírus desde o início do surto, em março.

O número de casos também teve alta notável nesta terça. Foram registrados novas 52.160 infecções pelo vírus, totalizando 3.109.630 doentes, também desde o início da crise sanitária. Epidemiologistas alertam que o poder público lida com a covid-19 de forma inconsequente, o que pode levar o país a superar as 200 mil mortes nos próximos meses.

Dados consolidados pelo Conass

Segunda onda

Para o pesquisador Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Amazônia (ILMD), algumas cidades vivem uma “segunda onda” de contaminações. Em especial, as mais afetadas no início do surto, como Manaus. “Há mais de três semanas temos percebido um aumento no número de óbitos por síndromes respiratórias. Independentemente das fontes que observamos, o resultado é o mesmo: o aumento de mortes.”

No Amazonas, há relatos de que existe um movimento da imprensa comercial, em conluio com o poder público para esconder o avanço da doença. O governador Wilson Lima (PSC) é jornalista e mantém laços com veículos da região. Jesem se atém aos dados, mas também lamenta a falta de informações. “Temos uma situação gravíssima e existe, aparentemente, um bloqueio de informações. O fato é que, desde que iniciaram a flexibilização, temos o aumento das mortes”, disse.

Dados que indicam possível segunda onda em Manaus (Fonte: Fiocruz)

Números

Comparando o período de 21 a 27 de julho com o de 4 a 10 de agosto, houve aumento de 54% nas mortes pela covid-19 em Manaus. “O dado mais estarrecedor e sugestivo de desprezo pela vida é o do excesso de mortes por motivos respiratórios no geral (covid-19, Síndrome Respiratória Aguda; pneumonia, insuficiência respiratória e óbitos com outros sintomas respiratórios) em pessoas com 20 anos ou mais, durante o período de 21 de junho a 22 de julho, aproximadamente 150% maior em 2020, quando comparado ao mesmo período de 2019”, completa o epidemiologista.

O estado do Amazonas passa por movimento mais agudo, mas similar a São Paulo. Escolas já estão retomando as aulas, coisa que deve acontecer em São Paulo em outubro. Já comércio e outras atividades não essenciais também estão na ativa, com concordância do governador Wilson Lima e também de João Doria (PSDB).

Por fim, Jesem conclui que “a narrativa de que a epidemia está controlada é falsa e, em última análise, irresponsável, passível de punição em diversas esferas, especialmente em tempos de franco descaso com as medidas de distanciamento físico e de retorno de atividades escolares em âmbito escolar”.

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Edição: Fábio M. Michel