Caos e ignorância

Com mais 1.205 mortos em 24 horas, Brasil está a poucas horas de 100 mil vítimas da covid-19

“Como a adesão ao isolamento está diminuindo, a curva de novos casos de covid-19 deverá se manter, possivelmente até novembro”, diz pesquisador

Prefeitura de Jundiaí
Prefeitura de Jundiaí
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São Paulo – O Brasil mantém a média diária de mais de mil óbitos e está praticamente a 24 horas do registro oficial de 100 mil mortos e 3 milhões de infectados pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. No último período, foram registradas as mortes de mais 1.205 brasileiros, totalizando 98.493. Os dados foram divulgados no início da noite desta quinta-feira (5) pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass.

Já o número de novos casos nas últimas 24 horas foi de 53.340. Desde o início da pandemia no país, em março, 2.912.212 pessoas foram infectadas pela covid-19. De acordo com cientistas e até segundo o próprio governo, esses dados são seguramente maiores, já que a subnotificação é uma realidade no país. Mesmo com a subnotificação, a curva epidemiológica do vírus no Brasil não mostra nenhum sinal de regressão.

Dados consolidados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)

No epicentro

O Brasil segue como epicentro da covid-19, posto que ocupa há mais de um mês. Isso significa que, durante este período, o país foi o que mais registrou mortes diárias no mundo.

Já o estado mais afetado segue São Paulo. São 24.448 mortes confirmadas pelo vírus, além de 598.670 infectados. A capital paulista ultrapassou as 10 mil mortes hoje (6). E representa mais de 40% das mortes em todo o estado, e 10% das vítimas do país. Sozinha, a maior cidade brasileira tem mais mortos que países inteiros, como Chile, Argentina, Alemanha e China.

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Flexibilização

Mais da metade das mortes no estado de São Paulo ocorreu em apenas um mês. O agravamento da situação coincide com o fim de medidas de isolamento social, decretado pelo governador João Doria (PSDB). No início de julho, o tucano passou a abandonar, progressivamente, as medidas de proteção sanitária que vigoraram desde o fim de março, sem nunca terem sido rigorosas.

O cenário se repete em outros estados, como o Rio de Janeiro, segundo mais afetado. A flexibilização significou o recrudescimento da pandemia em muitas regiões. No Paraná, por exemplo, houve explosão de casos. Na capital, Curitiba, após semanas de pandemia controlada, o cenário é preocupante. A taxa de ocupação das UTIs passa de 90% e o sistema de saúde apresenta sinais de colapso.

O fim das medidas de isolamento social foi justificada por muitos governantes após uma breve tendência de estabilidade – o chamado platô – no número de casos e mortos, ainda que ambos em números elevados. “Alguns dirigentes têm usado o platô como argumento para relaxar as medidas de isolamento social. Mas, na realidade, o platô é a assinatura do fracasso das políticas de contenção”, criticou o professor e pesquisador de matemática aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Massad, em seminário on-line promovido pela Agência Fapesp.

“Toda curva epidêmica que se preze tem de atingir o pico e começar a cair”, acrescentou o pesquisador. “Mas, como há evidências de que a adesão ao isolamento está diminuindo, muito provavelmente a curva de novos casos vai se manter. Na cidade de São Paulo, por exemplo, ela deve se estabilizar em 17 mil novas infecções por dia até, possivelmente, novembro.”

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