"Gripezinha?"

Que olhem agora para as vítimas que não conseguimos salvar, diz Padilha sobre covid de Bolsonaro

Para o ex-ministro da Saúde, contágio do presidente é consequência do desprezo à pandemia, com seu discurso contra o isolamento e contra o uso de máscaras

Marcos Correia/PR
Marcos Correia/PR
Bolsonaro entre o senador Davi Alcolumbre e o deputado Rodrigo Maia. Presidente sempre desprezou o uso de máscaras, até vetar obrigatoriedade em igrejas, comércio e em presídios

São Paulo – O ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse hoje (7) que espera que a confirmação de contágio do presidente Jair Bolsonaro pelo novo coronavírus motive o governo a finalmente combater a pandemia. “Depois do teste positivo de Bolsonaro, torço para que olhem agora para os números e para as vidas que não conseguimos salvar e entendam que a covid-19 não é apenas uma ‘gripezinha’, mas sim uma das doenças de maior impacto que do mundo vivenciou nas ultimas décadas”, escreveu em seu perfil no Twitter.

Na mesma rede social, o deputado faz recomendações ao também congressista Eduardo Bolsonaro: “Que aprenda com essa experiência”. No mês passado, o filho Zero Três do presidente postou uma resposta desrespeitosa a um de seus críticos sobre a postura do pai frente à pandemia. Após o diagnóstico positivo do pai, o tuíte foi apagado.

(Reprodução)

Em outra postagem, Padilha lembrou que os médicos e profissionais da saúde têm avisado sobre os perigos à população que representam as ações de sabotagem contra o controle da pandemia. “Avisamos que sua política atentava contra o povo e dificultava o enfrentamento à pandemia, mostrando os perigos do não uso de máscaras e de seu discurso contra o isolamento.”

Ele criticou o loteamento do Ministério da Saúde por militares sem capacitação técnica e sem diretrizes para lidar com o problema. “Temos um Ministro da Saúde dentro dessa crise toda que vivemos? Não! A Covid-19 é maior problema nacional que vivemos na pasta e a ocupação militar não se coloca a frente para enfrentarmos a pandemia.”

O Brasil está sem ministro da Saúde desde 15 de maio, quando Nelson Teich deixou a pasta, após menos de um mês no cargo. O general Eduardo Pazuello permanece como interino.

Sabotagem

O anúncio do teste positivo para covid-19 foi feito em meio a mais uma onda de ações contra a prevenção da doença causada pelo novo coronavírus, que infectou mais de 1,6 milhões de pessoas e matou mais de 65 mil desde março. Ontem (6), Bolsonaro alterou a lei sobre obrigatoriedade do uso de máscaras no país por meio de dois vetos: à obrigatoriedade em prisões e em estabelecimentos de cumprimento de medidas socioeducativas. Na última quinta-feira (2), vetou a obrigatoriedade do uso em igrejas e estabelecimentos comerciais e industriais.

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A advogada criminalista Vivi Mendes, militante na defesa dos direitos humanos e ex-assessora da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres na gestão de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, lembrou das pessoas que podem ter sido contaminadas por Bolsonaro.

Ajuda desprezada

Além de adotar e apoiar medidas que favorecem o avanço do vírus, o governo Bolsonaro ainda recusa ajuda financeira. De acordo com o site G1, a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba ofereceu R$ 508 milhões ao Ministério da Saúde para o combate à pandemia. Mas ainda não houve resposta.

O montante vem de acordos de leniência firmados com a força tarefa por empresas que desviaram recursos públicos, confessaram os esquemas e pagaram multas. A oferta foi feita em 21 de maio, mas o ministro Braga Netto, da Casa Civil, que coordena o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19, ainda avalia se aceita ou não.

Edição: Fábio M. Michel


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