Governo Bolsonaro

Desmonte do Inpe traz prejuízo à sociedade, afirma pesquisador

Professor da USP avalia que mudanças na estrutura da instituição vão desvalorizar as atuações com observações do clima e desmatamento

Arquivo ABR
Arquivo ABR
Professor do departamento de Geografia da USP diz que o que está ocorrendo é o enfraquecimento de todo o sistema de observação terrestre

São Paulo – Duas cartas publicadas nesta semana por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) advertem sobre as mudanças estruturais que a instituição vem sofrendo no governo Bolsonaro. Os pesquisadores afirmam que as transformações são sérias, profundas, capazes de paralisação institucional e de inviabilizar o Instituto.

Essas cartas vieram a público no contexto de exoneração da pesquisadora Lúbia Vinhas, coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe, na segunda-feira (13). O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou ontem (14) um plano de redução da estrutura do Instituto.

A exoneração de Lúbia foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) três dias após a divulgação de alertas de desmatamento na Amazônia. Mas o MCTI afirmou que a mudança no Inpe não está relacionada com a situação de preservação ambiental no Brasil.

O professor do departamento de Geografia da USP Wagner Ribeiro diz que o que está ocorrendo é o enfraquecimento de todo o sistema de observação terrestre, que foi paulatinamente crescendo desde o ano 2000 e que é hoje uma grande matriz de produção científica e tecnológica.

“Os pesquisadores do Inpe voltados para esse segmento são os grandes protagonistas das discussões sobre mudanças climáticas no Brasil e no mundo”, diz Ribeiro, em entrevista ao jornalista Glauco Faria na Rádio Brasil Atual nesta quarta-feira (15). Wagner citou pesquisador Carlos Nobre que ganhou o protagonismo muito além do Inpe e com destaque no cenário internacional, entre outros nomes que pertencem ou já pertenceram à instituição.

“Esse documento que os funcionários produziram é importante, porque estamos assistindo na verdade a uma mudança no perfil do Inpe”, afirma. Ele destaca que a maior presença do setor militar no governo Bolsonaro pode levar a que o Inpe volte-se apenas para a pesquisa aeroespacial. 

Sistema terrestre

“Mas o lado de observação do sistema terrestre é fundamental, porque ali você tem o acompanhamento do desmatamento. Nessa nessa área você tem o CPTEC, que é dos anos 90 e muito importante, porque produz análises relevantes sobre as mudanças climáticas. É de fato o esvaziamento de todo esse segmento que eles dizem que vão reagrupar”, analisou.

“Se isso se concretizar, a sociedade brasileira vai ter prejuízo sim”, disse ainda. Wagner considera que haverá um rebaixamento do setor observação terrestre dentro da instituição e com menor prestígio haverá menos recursos para promover a pesquisa.

Um dos trechos de uma das cartas adverte sobre o caráter centralizador e controlador da nova estrutura criada pelo governo. “O novo modelo é inspirado na estrutura militar e vai na contramão da tendência de pesquisas atualmente por meio de redes colaborativas com Liberdade acadêmica e autonomia científica”, destaca Wagner.

Acompanhe a entrevista