Pandemia no Brasil

Covid-19 avança sobre o Sul, Centro-Oeste e interior. E onde há ‘estabilização’, patamar é elevado

Ministério da Saúde registra 631 mortes nas últimas 24 horas e 24.831 novos casos de coronavírus. Situação do país ainda é “preocupante”, alerta médico e professor da USP

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC
Brasil ultrapassa 1,8 milhão casos e soma 72.100 vidas perdidas nas últimas 24 horas

São Paulo – O boletim do Ministério da Saúde, divulgado neste domingo (12), registrou nas últimas 24 horas mais 631 mortes em decorrência do novo coronavírus, elevando para a 72.100 o total de vidas perdidas. O Brasil abre a semana com mais 24.831 novos casos confirmados da doença, somando 1.864.681 infectados pela covid-19.

Os números de casos e óbitos divergem, no entanto, do levantamento feito pelo consórcio de veículos da imprensa, que apontam para uma quantidade mais alta. Com base em dados das secretarias estaduais de Saúde das 27 unidades da federação, o país teria até este domingo 659 mortes e 25.364 novos infectados. Um total de 72.151 vítimas e 1.866.176 casos confirmados. 

A convergência é que tanto os dados do Ministério da Saúde como do consórcio revelam um “cenário ainda preocupante”, como sintetiza o médico pneumologista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Ubiratan de Paula Santos. 

Em entrevista a Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, o médico chama atenção para uma média de 800 a 1.000 mortes diárias pela covid-19 no país que, até este domingo, ficou em 1.036 óbitos na semana. E lembra que a pandemia ainda avança sobre o Sul, Centro-Oeste e interior. Desde o início do mês, o monitoramento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que a taxa de transmissibilidade da doença nas duas regiões está em ascensão.

Casos de coronavírus: platô não é baixo

O índice chegou a 1,24 no Sul, e a 1,2 no Centro-Oeste, enquanto que no Brasil, a taxa acumulada é de 0,96. A preocupação do médico e professor se dá em relação aos frigoríficos das duas regiões, que foram confirmados como pontos de transmissão da doença. Além do próprio transporte dos trabalhadores.

“Esses locais precisam ter uma adequação melhor, porque são atividades essenciais, a produção de comida e o transporte das pessoas. Se dentro dos frigoríficos os trabalhadores estão sendo contaminados, isso significa que a ventilação e os procedimentos de higiene, que também podem contaminar a carne, não estão sendo adequados. É preciso uma ação também nesse sentido para preservar a população”, explica.

Santos ressalta que mesmo onde se fala em platô (estabilização), por exemplo, o número de casos e óbitos continua elevado. É o caso do estado de São Paulo, que já registra mais de 370 mil casos confirmados e 17.848 mortes. “Nós não estamos falando de um platô baixo”, adverte. 

“E os hospitais privados ficaram todos com UTIs lotadas neste final de semana. A classe média e alta está se infectando novamente? Ou são pessoas do interior que vêm em busca de tratamento e serviço? Essas análises são importantes para definir estratégias de enfrentamento”, garante o médico pneumologista.

O estado de São Paulo, cujo governo fala em estabilidade de casos para gradualmente flexibilizar as atividades econômicas, completou em 1º de julho 100 dias de quarentena. O tempo de confinamento já é maior do que foi em Wuhan, na China – epicentro do início da pandemia. Foram 76 dias na cidade chinesa, mas em lockdown. O que confirma a tese de que um restrição total das atividades, logo no começo da crise sanitária, teria sido mais benéfica do que o isolamento parcial. 

Os riscos da doença

É o que destaca o médico, chamando a atenção para o platô de casos e óbitos, ainda elevado, e que exige cautela. O médico e professor da USP chegou a ficar 25 dias internado após ser infectado pelo coronavírus, 16 deles na UTI e com entubação. E contesta a postura de autoridades, como o presidente da República, Jair Bolsonaro, que minimizam as possibilidades de contágio e a doença em si.

“Perdi 14 quilos, fiquei muito fraco. Eu não tinha condições de tomar banho sozinho, levantava da cama e já tinha falta de ar e cansaço”, conta o médico. “Estou há 40 dias de alta e ainda tenho cansaço ao subir dois lances de escadas ou uma rua íngreme.”

Para se recuperar, ele faz exercícios de fisioterapia, segue uma dieta nutricional e segue o uso de suplementos proteicos. O médico defende que nesse momento ainda grave da pandemia é preciso manter uma pressão sobre o governo federal para que recursos sejam liberados aos estados e municípios para o Sistema Único de Saúde (SUS) identificar novos casos e a linha de transmissão da doença. E ressalta a necessidade de se garantir aos pacientes curados uma recuperação nutricional e com orientação de exercícios físicos. 

“Senão eles podem ficar com sequelas pulmonares, neurológicas, musculares ou demorarem muito tempo para se recuperar. E eles precisam tocar a vida, precisam trabalhar, viver, conviver com a família”, recomenda Ubiratan de Paula Santos.


Leia também


Últimas notícias