Covid-19: metade dos médicos relata pressão para prescrever remédios sem eficácia comprovada
Especialista da Friocruz alerta para a instabilidade emocional causada nas equipes médicas por esse tipo de cobrança indevida. “Tive covid, e não usei cloroquina”
Publicado 27/07/2020 - 13h54
São Paulo – Pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que quase metade (48,9%) dos médicos que estão na linha de frente do combate à covid-19 sofreu pressão para receitar tratamentos sem comprovação científica. São pacientes e familiares que exigem a aplicação de medicamentos como a cloroquina, hidroxicloroquina e a ivermectina.
Além disso, o levantamento destaca que 69,2% deles afirmam que notícias falsas e sensacionalistas interferem negativamente no desempenho das suas funções. Foram ouvidos 1.984 profissionais de todo o país.
Para o coordenador de vigilância em saúde e laboratórios de referência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rivaldo Venâncio da Cunha, esse tipo de comportamento de pacientes e seus familiares cria “instabilidade emocional” nas equipes médicas. Sem citar nomes, ele lamentou o uso político desses medicamentos.
“Eu tive covid-19. Gostaria muito que a cloroquina pudesse ser usada para resolver a minha situação. Mas não usei, porque já havia evidências científicas de que não tem efeitos contra a doença. Gostaríamos muito que tivesse sido comprovado o efeito anti-covid na ivermectina, na cloroquina ou na hidróxicloroquina. Mas, infelizmente, as pesquisas mostraram que não”, afirmou, em entrevista a Glauco Faria no Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (27).
O especialista afirmou que o Brasil vive hoje “diversas epidemias”, dadas as diferenças regionais do país. Preocupa mais o avanço da doença nas regiões sul e centro-oeste, além do estado de Minas Gerais. Ele recobrou a importância das medidas de higiene e distanciamento social, já que as primeiras vacinas só devem estar disponíveis a partir de 2021, apesar dos notáveis avanços da ciência.
Assista à entrevista:
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