franca subnotificação

Brasil passa de 75 mil mortos pela covid-19. Fiocruz alerta: pode ser a ‘ponta do iceberg’

Com 1.233 mortos nas últimas 24 horas, Brasil segue sendo o epicentro da pandemia no mundo. Estudo indica que números reais devem ser muito piores

Altemar Alcantara.Semcom
Altemar Alcantara.Semcom
"É profundamente injusto que a maioria dos africanos vulneráveis sejam forçados a esperar por vacinas enquanto a segurança de grupos não prioritários é garantida nos países ricos"

São Paulo – O Brasil registrou, nas últimas 24 horas, 1.233 mortes causadas pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Com mais estas vidas, o número de vítimas no país desde o início da pandemia, em março, chegou a 75.366. A pandemia segue descontrolada e com alta letalidade no país. Para cientistas, a realidade ainda pode ser muito pior.

O número de novos casos segue registrando o crescimento da curva de contágio. No último período, foram registrados 39.924 novos infectados, totalizando 1.966.924 desde março. Os números foram informados no início da noite de hoje (15) pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

O balanço, porém, contém grande defasagem dos dados, apontada por cientistas e reconhecida por autoridades. O Brasil é um dos países que menos realiza testes. Epicentro da pandemia há dois meses, em números oficiais, está atrás apenas dos Estados Unidos na conta de cidadãos afetados pelo vírus.

Balanço de hoje (15) do Conass

Subnotificação

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) divulgaram, também hoje, estudo sobre a realidade da pandemia no país. “Em quase cinco meses após o surgimento dos primeiros casos no país, ainda é difícil apontar números precisos da mortalidade específica pela doença, diante das falhas da cobertura da vigilância laboratorial e epidemiológica”, afirma a Fiocruz.

O resultado aponta para uma severa subnotificação nas mortes pela covid-19. Foram analisados dados de mortes naturais durante a pandemia em quatro cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Manaus. Os municípios foram os mais duramente afetados no primeiro momento da pandemia.

Fonte: Fiocruz Amazônia

Foi identificado o número de 22 mil mortes a mais do que o esperado para a época. “Se temos 22 mil mortes excedentes em quatro capitais, dessas 22 mil, boa parte deixou de ser classificada como covid-19, é muito provável que o número real, sendo bastante conservador, que hoje é de aproximadamente 75 mil seja de uns 100 ou 110 mil”, avalia o pesquisador da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana.

“Este é o primeiro grande estudo brasileiro que mostra o provável tamanho do iceberg que representa os irreversíveis danos da epidemia no Brasil, especialmente as dezenas de milhares de vidas que foram perdidas, sem necessidade”, completa.

Lamentável

A pesquisa deixa claro que muitas mortes seriam evitáveis. O Brasil não fez um trabalho adequado no tratamento da pandemia. Não rastreou o contágio, não executou medidas intensas e efetivas de isolamento social se, sequer testa adequadamente os cidadãos. Ao contrário, o presidente Jair Bolsonaro subestimou e subestima a doença.

Por outro lado, os governadores e prefeitos que, em um primeiro momento, executaram medidas leves de isolamento social, agora passam a relaxar de forma precoce. Muitas autoridades alegam estabilidade nas mortes para explicar o relaxamento. Entretanto, a realidade aponta para uma estabilidade relativa com um número elevado de subnotificação e de mortes diárias. E o total de casos não para de crescer.

Tudo isso tende a piorar com a interiorização do vírus, processo epidemiológico em andamento. Se as notificações já são deficientes nas grandes cidades, em regiões mais afastadas a situação é mais dramática. Faltam leitos, médicos e, especialmente, laboratórios de medicina diagnóstica.

Edição: Fábio M. Michel


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