Gestão tucana

Ocupação de UTI em São Paulo vai a 81%. Governo Covas omite dados

Prefeitura de São Paulo conta apenas a ocupação de UTI dos hospitais municipais, ignorando os leitos estaduais e privados. Com isso, derruba índice para 63%

Marcelo Casall Jr/ABR
Marcelo Casall Jr/ABR
Mortalidade por covid-19 em pacientes internados em UTI é alta e aumento de internações é prenúncio de uma tragédia

São Paulo – A ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de São Paulo chegou a 81,7% neste domingo, segundo dados do Boletim Coronavírus, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. O índice é 18,7 pontos percentuais maior que o informado oficialmente pelo governo do prefeito Bruno Covas (PSDB) – 63%. Isso porque a prefeitura conta apenas os leitos de UTI dos hospitais municipais e os contratados pelo município na rede privada, ignorando os hospitais estaduais e as demais unidades de saúde privadas. Em todo o estado, a ocupação é de 70,8%. E na Grande São Paulo é de 76,2%. Ambos os índices estão subindo.

O governo Covas abriu novas unidades de terapia intensiva e hospitais de campanha, aumentando a oferta de leitos na cidade. Também contratou leitos na rede privada e passou a contabilizar apenas esses leitos desde o anúncio da flexibilização da quarentena no estado, por meio do Plano São Paulo, que coordena a reabertura do comércio e dos serviços.

Com isso, a prefeitura procurou demonstrar que a situação da pandemia de covid-19 está sob controle na capital paulista. No entanto, embora tenha havido certa estabilização no número diário de novos casos e mortes, as internações de pessoas continuam subindo.

O número de pessoas internadas em UTI nos hospitais municipais subiu de 495 para 744 (50,3%), desde o dia 19 de maio. No estado, a situação é pior. Houve aumento de 56,1% no número de internações de pessoas contaminadas por covid-19, no mesmo período. De 3.659 para 5.710. Se consideradas todas as internações, o governo Doria registrou aumento de 9.500 para 13.982, no mesmo período.

Boletim 79 comitê de combate à pandemia em São Paulo traz a informação: São Paulo conta apenas internações em hospitais municipais e nos particulares que contrata (Reproduçaõ)

A situação coloca a capital paulista novamente em alerta vermelho para a pandemia de coronavírus, conforme os critérios do plano São Paulo. E mostra que a anunciada estabilização da situação é frágil, já que também as mortes por covid-19 não param de crescer na cidade. Além de poder levar a uma nova decretação de fechamento do comércio e uma quarentena mais restrita, se a situação se mantiver até a próxima avaliação do governo paulista, na próxima quarta-feira (17).

Retrocesso previsível

No dia 19 de maio, o então coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, Dimas Tadeu Covas, declarou que, em virtude da baixa adesão ao isolamento social e ao aumento de casos e mortes, o estado estava “perdendo a batalha contra o vírus”. Naquele dia, havia 9.500 internações devido à covid-19 em SP, sendo 3.659 em UTI e 5.902 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI era de 71,4% no Estado de São Paulo e 88% na Grande São Paulo.

Uma semana depois, o discurso mudou e teve início o processo de implementação do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena e a reabertura do comércio e dos serviços no estado. A principal justificativa é que o número de novos casos e novas mortes havia se estabilizado, bem como a ocupação de leitos de UTI havia caído. No entanto, essa queda se deveu a abertura de novos leitos, tanto de terapia intensiva, quanto de enfermaria. E não a uma redução na demanda de internações por causa da covid-19.

As diretrizes para flexibilização também foram alteradas. Em vez de queda no número de casos, adesão ao isolamento de 55% ou maior e ocupação de UTI em no máximo 60%, o governo paulista criou um sistema sob medida para justificar a abertura. Dentre os novos critérios estão o número de leitos de UTI por 100 mil habitantes, as variações semanais de novos casos, novas mortes e novas internações, além do percentual de ocupação das UTI, que passou a ter quatro níveis, de acordo com Plano São Paulo: acima de 80% (alerta máximo); entre 70% e 80% (controle); entre 60% e 70% (flexibilização) e abaixo de 60% (abertura parcial).

No último dia 11, Dimas Covas, que deixou a coordenação do comitê dias depois do anúncio de flexibilização, disse em uma live com pesquisadores que “vai acontecer o pior”. “Nenhum especialista, nenhum infectologista, nenhum epidemiologista fala que você pode sair (da quarentena) com curva em ascensão. E, no estado de São Paulo, nós não temos nenhuma curva em descensão. Vai acontecer, na minha visão, o pior. Vão perceber que as UTI vão ficar lotadas, vão ter sobrecarga e vão ter que tomar algumas medidas. Talvez a gente aprenda pela forma mais dolorosa


Leia também


Últimas notícias