Em meio à pandemia, Doria anuncia mudanças em hospital de região carente da capital
Servidores, que já foram comunicados sobre remanejamento para outros hospitais, temem que mudança afete a qualidade do atendimento à população
Publicado 02/06/2020 - 17h08
São Paulo – Carente da oferta de serviços públicos, a região de São Mateus, na zona leste da capital paulista, poderá perder seu Hospital Geral, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde. A gestão João Doria (PSDB) está aproveitando a pandemia de covid-19 para municipalizar o equipamento. O anúncio foi feito pelo secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, em uma live na última quarta-feira (27).
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde afirma que “está dando todo apoio aos municípios no enfrentamento à pandemia de covid-19” e que neste momento estão em curso estudos sobre “o uso do Hospital Geral pela Prefeitura de São Paulo”. E garante que “não haverá prejuízos a pacientes, usuários ou aos profissionais, que seguem com todas as garantias legais, trabalhistas e com seus empregos assegurados”.
Os mais de mil servidores da unidade, porém, dizem temer que esse processo prejudique o atendimento à população. Com a terceirização da gestão do Hospital Geral de Guaianazes, no extremo leste da capital, sua Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal seria transferida para o São Mateus. A municipalização traria mais essa incerteza.
E temem também por suas carreiras. Segundo contam, circula no hospital a informação de que eles poderão ser transferidos para o Conjunto Hospitalar do Mandaqui, na zona norte, que está passando por um processo de terceirização de alguns setores. Ou para o Hospital de Heliópolis, na zona sul, perto da divisa com São Caetano, na região do ABC.
Por isso, eles realizaram hoje (2) um protesto em frente à unidade para reivindicar a permanência. Entre as palavras de ordem “Eu fico!”, manifestaram o desejo de continuar e o temor de serem descartados depois de 20 anos de dedicação ao serviço.
O Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP) é contrário à transferência desses trabalhadores, já que a maioria trabalha ali há muitos anos e já estruturaram suas vidas na região.
Na calada da noite
De acordo com o sindicato, em recente mesa de negociação foram cobrados esclarecimentos da Secretaria da Saúde, que na ocasião alegou não ter informações. Entretanto, logo a gestão do hospital convocou os trabalhadores para confirmar a municipalização.
“Por um lado a gente ouve boato, a Secretaria não dá posição, diz que é um estudo. A gente ouve falar em municipalização mas não conhece o modelo. Se é municipalização, a gente não é contra. Mas não pode mexer nos direitos dos trabalhadores”, disse a diretora da subsede leste do SindSaúde-SP Valéria Fernandes.
Integrante da Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher, a vereadora Juliana Cardoso (PT) acompanha o caso. Ela vai encaminhar requerimento para a realização de audiência pública para discutir a proposta costurada entre as gestões tucanas do prefeito Bruno Covas e do governador João Doria.
Administrado diretamente pelo governo paulista, o Hospital Geral tem 205 leitos e atende em regime de urgência/emergência e internação em clínica médica, cirúrgica, ginecológica e obstétrica, pediátrica e de queimados. Oferece assistência de baixa e média complexidade e serviço de diagnóstico e apoio terapêutico, além de atendimento ambulatorial especializado e referenciado.