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Covid-19: Brasil ultrapassa 55 mil mortos. ‘Pior ainda está por vir’, alerta epidemiologista

Apesar de média acima de mil mortos por dia durante a semana, muitas cidades e estados seguem relaxando medidas de isolamento social. Para pesquisador da Fiocruz, ações são equivocadas

Bruno Cecim/Ag.Pará
Bruno Cecim/Ag.Pará
O estado da Federação mais atingido pelo vírus continua sendo São Paulo: são 951.973 doentes oficiais e 34.492 mortos

São Paulo – O Brasil chega a esta sexta-feira (26) com 1.274.974 infectados pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Nas últimas 24 horas, foram 46.860 novos casos, um dos períodos com mais casos registrados desde o início do surto, em março.

Já o número de mortos chegou a 55.961, com 990 registrados no período equivalente a um dia. A semana vai chegando ao seu final com média acima das mil mortes diárias e alto índice de contágio. Estudos de diferentes entidades da área da saúde, como o Imperial College da Inglaterra e a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, apontam a pandemia no Brasil como descontrolada.

O país é o atual epicentro do coronavírus no mundo. E os números da doença em território nacional seguem em patamares altos. Sozinho, o Brasil tem mais mortos e casos do que todos os demais países latino-americanos somados. Isso mostra a falta de diretrizes e de articulação do governo Bolsonaro para lidar com a pandemia. As poucas ações, tomadas após a chegada da infecção ao país, só fizeram aumentar a disseminação.

Sem comando

O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana vê coerência nos alertas emitidos pelos órgãos de vigilância em Saúde. “Os dados não deixam dúvidas de que a pandemia de covid-19 está em expansão no Brasil. E que o pior ainda pode estar por vir”, afirma.

O cenário é delicado, já que, após a demonstração de uma tendência de estabilidade da pandemia no país, diversas cidades e estados passaram a relaxar medidas de isolamento social. Com o afrouxamento da proteção às pessoas por parte de prefeitos e governadores, o cenário confirma-se caótico.

Para o especialista, o que se vê é que o Brasil não consegue reduzir os números da pandemia e está longe de viver tempos melhores. “Tal conclusão é válida tanto para novos casos que são descobertos diariamente, tanto para o número de óbitos que, aliás, na semana de 18 a 24 de junho de 2020, foi de mais de mil por dia”, diz o epidemiologista.

São Paulo reabrirá bares

O epicentro regional da pandemia é São Paulo. O estado tem 258.508 infectados e 13.966 mortos, sem contar a subnotificação, que é praticamente consenso entre especialistas, reconhecida mesmo pelo poder público. Na semana em que o estado registrou recorde de mortos em um dia, o governador João Doria (PSDB) e seu correligionário, prefeito da capital, Bruno Covas, anunciaram plano para reabertura de bares, restaurantes e barbearias na próxima semana.

Jesem, que trabalha em Manaus, uma das cidades mais afetadas no início do surto, faz uma comparação entre as regiões. “Outra observação geral é de que os números de doentes e mortos na região Norte sugerem que o espalhamento massivo do novo coronavírus é mais recente do que no Sudeste. Ou os tempos e ritmos de espalhamento são diferentes, bem como suas consequências em termos de mortalidade – pois no Norte há menos estrutura médico-hospitalar, laboratorial e de recursos humanos para atuarem dentro e fora dos hospitais, em especial na vigilância epidemiológica e atenção básica”, observa.

Mesmo em cidades que registraram queda nos números, isso pode ser um falso indicador de estabilidade. Isso porque muitos brasileiros ainda não tiveram contato com o vírus e estão suscetíveis à covid-19. “Em Manaus ocorreu queda brusca no total de mortes nas últimas semanas, o que não significa que em toda a região norte esse número de mortes novas também diminuiu, ao contrário, esse processo de interiorização segue para comunidades/cidades menores e terras indígenas”, completou o epidemiologista.

Edição: Fábio M. Michel