Livre de patentes

Personalidades mundiais pedem vacina contra coronavírus gratuita e para todos

“Dependemos da vacina. O presidente diz que 70% vai se infectar, o que dá 140 milhões. Serão milhões de mortos. Tomara que ele esteja errado”, diz Drauzio Varella

Reprodução/Nações Unidas
Reprodução/Nações Unidas
O secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Arnaldo Medeiros, concedeu informações vagas sobre a vacinação no país. Foram mais vontades do que planos concretos

São Paulo – O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), a Oxfam Internacional e mais 19 organizações lançaram hoje (14) carta aberta na qual pedem que vacina (ainda em desenvolvimento), medicamentos e testes contra a covid-19 não sejam protegidos por patentes industriais e sejam produzidos em massa, disponibilizados a todos os países e distribuídos de forma justa e igualitária entre as população – e não apenas para aqueles que podem pagar.

O documento tem a assinatura de cerca de 140 personalidades mundiais, entre eles ex-chefes e ministros de estado, ganhadores de Prêmio Nobel e cientistas de diversos campos. Há dois brasileiros entre os signatários, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro Nelson Barbosa.

Publicada poucos dias antes da Assembleia Mundial da Saúde, que será realizada de modo virtual na próxima segunda-feira (18) por ministros da Saúde de todo o mundo, a carta poderá ser endossada por uma petição pública. Clique aqui para assinar.

Lucro

“Para o bem ou para o mal, a medicina pode evoluir graças à tecnologia desenvolvida pelas indústrias farmacêuticas. Não sou contra isso, e nem contra o lucro delas. Mas acho que esse lucro tem de ser controlado. Não dá para o Estado dizer: estamos em uma economia livre e cada um faz o que quer. Não pode, porque você corre o risco de tornar a sociedade refém da própria indústria. E nem acho que esse possa ser o interesse dessa indústria. Pode ser a curto, mas não a longo prazo. Em uma vacina como essa, não há condição de que se tenha lucro para ninguém. É uma pandemia mundial. E não vai interessar para ninguém que países mais pobres continuem alimentando o vírus”, afirmou o médico oncologista Drauzio Varella, em debate realizado pela Oxfam Brasil na manhã de hoje.

O médico lembrou a velocidade com que o novo coronavírus causador da covid-19 saiu da China – onde os primeiros casos descritos foram no começo de dezembro passado – e chegou ao Brasil, em março.

“O que vai acontecer se pegar o vírus e o mantiver apenas na Tanzânia? Ele volta a se espalhar para o mundo inteiro”, exemplificou. Por essa razão, Drauzio acredita que há um entendimento geral de que combate a uma pandemia mundial não é ambiente para se ganhar dinheiro.

E também de que os grandes laboratórios vão desenvolver a vacina, vão produzir milhões e milhões de doses e, junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), criar uma estratégia de distribuição.

Epicentro da pandemia

Ainda na avaliação do oncologista, o Brasil está em uma situação delicada, de total dependência da vacina. “O presidente (Bolsonaro) diz que esse vírus vai infectar 70% dos brasileiros, o que dá 140 milhões de pessoas. Se acontecer isso, a mortalidade vai ficar na casa dos milhões. Tomara que ele esteja errado”, disse. “Mas se estiver certo, sobrariam 30% carregando o vírus. Quem ficaria tranquilo com 30% da população carregando um vírus? O melhor é ter vacina para todos.”

Drauzio alertou também que, daqui a poucas semanas, o Brasil passará a ser o epicentro mundial da covid-19, com o maior número de casos e de mortes. “A única arma nesse momento é o isolamento, mas isso é muito difícil. O país é dos mais desiguais do mundo e nos habituamos a isso. Estamos pagando a conta de ter aceitado essa desigualdade”.

Segundo o Ministério da Saúde, até a tarde da quarta-feira (13) o Brasil tinha 188.974 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus e 13.149 mortes causadas pela covid-19. Segundo projeção da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o Brasil poderá ter em média 90 mil mortes até agosto. O modelo matemático usado, o mesmo que respalda política de saúde do governo de Donald Trump, havia previsto de 100 mil a 200 mil mortos na primeira onda. Já foram registradas 82 mil mortes nos Estados Unidos.

Drauzio criticou duramente a defesa intransigente que Jair Bolsonaro faz do fim do isolamento social. E chamou de “artificial, política e sem base em dados técnicos qualquer discussão de que o país vai quebrar caso seja mantida estratégia de isolamento”.

“Os economistas mais sérios, estudiosos e ligados à academia dizem que não se ativa a economia em meio a uma pandemia mundial. E que será uma grande tragédia, coletiva e individual, querer liberar tudo. Pega a Europa inteira, os Estados Unidos. O que fizeram? Forte isolamento. Eles por acaso são idiotas? Despreparados? Não têm suas economias afetadas? Vamos ficar quietos, em casa. É o estado, o governo, que tem de resolver a vida de quem precisa”, disse.


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