Linha de frente

Descaso de governos leva a recorde de mortes de profissionais de saúde

Falta de equipamentos e treinamento permite que trabalhadores sejam infectados pela covid-19. Contratação em hospitais de campanha também é precária, diz Sindicato dos Médicos

Andréa Rêgo Barros/PCR
Andréa Rêgo Barros/PCR
Hospitais de campanha geridos por organizações sociais contratam profissionais sem treinamento, diz sindicato

São Paulo — O Brasil bateu recorde mundial de mortes e infecções de covid-19 entre profissionais de saúde. Segundo especialistas, o país chegou a essa situação por descaso do governo, falta de equipamentos de proteção contra o coronavírus e desqualificação profissional de médicos e enfermeiros convocados para combater a doença.

Reportagem de Jô Miyagi no Seu Jornal desta quinta-feira (28), na TVT, mostra como os profissionais de saúde têm sido vítimas da doença. Faz dois anos que a enfermeira Luci Silva e o professor Célio Hélio de Oliveira se casaram no papel, mas eles estavam juntos há 18 anos. No fim de semana, Luci morreu infectada pela covid-19. “A gente estava tomando todas as precauções e aí chegou um momento em que ela começou a ficar gripada até o dia em que ela passou mal mesmo, foi para o hospital e não saiu mais”, afirma o marido.

O Brasil é o triste recordista mundial de profissionais de saúde e enfermagem mortos pelo novo coronavírus: 52% dos casos ocorreram aqui. E de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem quase 17.500 enfermeiros, técnicos e auxiliares se infectaram, e 161 morreram. 

O coordenador do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Eduardo Fernando de Souza, afirma que um dos fatores é a má qualidade dos EPIs e outro muito preocupante é que os profissionais acima de 60 anos que tem comorbidades e fazem do programa de combate à pandemia continuam na linha de frente dos atendimentos. 

Falta de treinamento

A grande quantidade de contaminados acontece também por falta de treinamento que não foi dado pelas empresas privadas e pelo poder público. É o que denuncia Solange Caetano, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo (Seesp). “Muitas instituições colocaram os trabalhadores na linha de frente, mas não treinaram eles nem para colocar e tirar a roupa, ou seja, fazer a paramentação e a desparamentação, e também não treinaram esses profissionais quanto aos cuidados em relação à covid-19 especificamente”, afirma.

Entre os médicos, a quantidade de mortes também é preocupante. São mais de 110 casos e os problemas apontados são iguais aos dos enfermeiros. Falta de equipamentos de proteção e instalações inadequadas. Juliana Salles, do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo, ainda aponta que empresas e governo não dão capacitação, principalmente aos recém-formados. 

“Os hospitais de campanha geridos pelas organizações sociais muitas vezes contratam mão de obra desqualificada, mão de obra recém-formada e também que não tem o preparo adequado e eles não fazem esse preparo”, afirma Juliana. “Os médicos que são contratados nesses hospitais de campanha geridos por organizações sociais são recém-formados que não têm treinamento em atendimento de porta e não têm expertise no atendimento de emergência e urgência”, diz. 

O governo do estado de São Paulo permitiu a flexibilização da quarentena no município de São Paulo a partir de junho. A prefeitura da capital, no entanto, afirmou que não haverá flexibilização no dia 1° e nem deu datas. Os profissionais de saúde acham que esse realmente não é o momento adequado, porque os índices não mostraram queda nas contaminações e mortes. “Agora o que a gente necessitaria é ter incentivo para as pessoas fazerem isolamento”, defende Juliana.