Científico

Unicamp sobre a cloroquina contra coronavírus: ‘Sem evidência suficiente’

Universidade de Campinas ressalta que o uso da substância como possível cura para a covid-19″é prematuro e potencialmente prejudicial”

Thomaz Marostegan/Unicamp
Thomaz Marostegan/Unicamp

São Paulo – A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgou nota, na quinta-feira (9), em que afirma não haver eficácia comprovada cientificamente sobre o uso da cloroquina – e de sua variante, a hidroxicloroquina – no tratamento de pacientes com a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A instituição afirma que considerar o uso da substância como possível cura para a infecção “é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica”.

A avaliação, afirma a Unicamp, é baseada no parecer de especialistas de dentro e de fora daquela universidade. A nota “corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial”.

O comunicado se encerra com um alerta: “As manifestações de apoio ao uso da hidroxicloroquina para covid-10 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados”.

Por outro lado, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como forma mais eficas para reduzir a disseminação do coronavírus, com impactos dramáticos sobre os sistemas de saúde públicos e privados e consequente aumento do número de mortes pela covid-19, continua sendo o distanciamento social, devendo as pessoas ficarem o máximo possível em suas casas.

Confira a íntegra da nota

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) reitera o seu compromisso com a ética e com a ciência na busca por soluções que atendam o adequado acolhimento do paciente, o diagnóstico preciso e a melhor terapêutica, visando minimizar os efeitos da pandemia COVID-19. Há em todo o mundo, inclusive no Brasil, uma busca incansável por medicamentos eficazes para o tratamento dos doentes.

Essa busca deve ser pautada exclusivamente pela pesquisa conduzida seguindo métodos científicos bem estabelecidos, com protocolos claros e subordinados a valores éticos. Assim, no que diz respeito a declarações sobre o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento da COVID-19, isoladamente ou em associação com azitromicina (HCQ + AZT), a Unicamp, ouvindo especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, e amplamente amparada por estudos científicos sobre o tema, corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.

Como reiterado em editorial de 08 de abril de 2020 da British Medical Journal, uma das publicações científicas da área médica mais respeitadas do mundo, o uso da cloroquina e seus derivados na COVID-19 é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica.

Medicamentos como a HCQ têm efetivamente sido usados para pacientes portadores de malária ou doenças autoimunes. No momento, a administração de cloroquina e seus derivados para a COVID-19 deveria ocorrer apenas em ensaios clínicos controlados para pacientes internados sob supervisão médica restrita e intensiva. Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes.

As manifestações de apoio ao uso da HCQ para COVID-19 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados. A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas.

Reitoria

Campinas, 09 de abril de 2020.


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