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Brasil tem de redobrar esforço por isolamento social, alerta Mandetta

Isolamento social é essencial, defende o ministro da Saúde, que prevê colapso do sistema hospitalar até final de abril e já recomenda máscara caseira

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
"Esse vírus questiona a maneira como a sociedade se organizou até aqui em relação ao consumo", afirmou o ministro

São Paulo – O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pediu para que medidas de isolamento social contra a pandemia do novo coronavírus, como quarentenas, sejam intensificadas. “O Brasil fez uma diminuição da atividade. O Brasil não fez lockdown. Vemos muita gente trabalhando. Precisa redobrar o esforço. Se não redobrar, vamos ter problemas”, disse, durante entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (1º).

A fala do ministro acompanha recomendações internacionais e de especialistas em saúde. Também segue os dados, que crescem dia a dia. De acordo com o levantamento mais recente, são 241 mortos e 6.836 infectados, a maioria deles com sintomas severos.

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Entretanto, a preocupação de Mandetta segue na contramão do posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Por repetidas vezes, Bolsonaro ridicularizou a pandemia, chamou de “gripezinha” e disse que nele o vírus sequer teria efeito, já que tem “histórico de atleta”. O político também promoveu acúmulo de pessoas e provocou brasileiros a deixar o isolamento.

“Olho para a ciência. Vamos nos pautar por isso até o limite de tudo que tivermos na frente. Sempre. Se isso faz barulho, para mim é secundário, terciário ou quartenário. Querem me trazer sugestão, quem quiser de direito, tragam com ciência, pesquisa e referendado pelo Conselho Federal de Medicina”, disse o ministro.

Razões para isolar

Uma das razões pela defesa enfática de Mandetta por isolamento, quarentenas e trabalhos em home office é a redução dos casos. Essa é apenas a superfície do problema. Para muito além dos casos individuais, como o novo coronavírus se espalha muito rapidamente, o sistema de saúde pode entrar em colapso, faltar leitos, UTIs, ambulâncias. Provavelmente entrará até o final do mês, de acordo com o próprio ministério.

Outro grande problema é a questão dos materiais de proteção dos profissionais de saúde, os chamados EPIs. Existe uma corrida em todo o mundo por esses insumos. Já existe falta de luvas, máscaras, gorros, entre outros. “Diminuir ao máximo o trânsito de pessoas tem esse objetivo”, disse o ministro.

“O problema é que esse vírus foi extremamente duro e derrubou, inutilizou, parou a produção dos equipamentos de proteção individual que os hospitais utilizam. Há falta de equipamentos”, completou. A falta de tais materiais e o colapso do sistema de saúde fazem com que doenças corriqueiras sejam mais fatais. “Equipamentos não são utilizados só para a covid-19. Usam para infarto, apendicite, uma enormidade de situações. Quando o sistema cai, ele cai para todos. Não cai só para o corona. Cai geral.”

Competição

Ontem, os Estados Unidos enviaram grandes aviões cargueiros para a China para comprar equipamentos. O país asiático é o grande produtor de tais insumos no mundo. Outros países também estão correndo. este cenário colocou em andamento uma crise de abastecimento, com péssimas perspectivas.

“Os Estados Unidos mandaram 23 cargueiros dos maiores existentes para a China para levar material. Nossas compras, que tínhamos expectativas de concretizar para fazer o abastecimento, muitas caíram”, alertou o ministro. “A demanda está muito aquecida. Países que exercem poder forte de compra, esperamos que eles tenham se saciado para que possamos comprar também nossa parte. “

Mais uma vez, Mandetta reforçou que a única saída para o momento é: ficar em casa. “O corona fez paralisar a maior potencia do mundo, a Europa. Todos estão preocupados. Esse vírus questiona a maneira como a sociedade se organizou até aqui em relação ao consumo. Inúmeros países estão tentando adquirir insumos ao mesmo tempo. Só há uma solução, vamos fazer lentidão no sistema para consumir o mínimo possível.”

Máscaras caseiras

Uma novidade na orientação do Ministério da Saúde foi a confecção de máscaras caseiras. Diante da falta do equipamento, Mandetta sugeriu que elas podem ser confeccionadas em casa, com alguns tecidos comuns, como o Tecido Não Tecido (TNT). A recomendação foi orientada também, e especialmente, para comunidades com grande acúmulo de pessoas.

“Faça máscaras pessoais, quatro ou cinco, lave com água sanitária. Não adianta lamentar. Vamos ter que criar nossas armas e elas serão usadas. Vamos abaixar ao máximo, diminuindo bem a movimentação social, para diminuir o consumo”, disse.

Mandetta disse que amanhã o ministério deve publicar um artigo sobre o tema. “Qual o tecido que funciona melhor? Amanhã vamos publicar isso bem grande na página do ministério. Tem um trabalho científico que mostra que máscaras de barreira mecânica funciona muito bem. Qualquer pessoa pode fazer sua máscara de pano que vai funcionar e vai ajudar o sistema de saúde. Também recomendamos, de forma simples e fácil, como lavar, com água sanitária.”