Desigualdade

Coronavírus: 60% das UTIs de São Paulo se concentram em três distritos

Outros 16 distritos têm entre dois e oito leitos de UTI para lidar com a pandemia de coronavírus. Hospitais de campanha ficam nas mesmas regiões

reprodução
reprodução
Concentração dos leitos de UTI para tratar pacientes de coronavírus mostra a desigualdade em São Paulo

São Paulo – Levantamento da Rede Nossa São Paulo mostra que a disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para lidar com a pandemia de coronavírus na capital paulista esbarra na desigualdade, sobretudo na periferia.

Apenas três distritos – Sé, Vila Mariana e Pinheiros – concentram 60% dos leitos de UTI da cidade. Outros sete distritos – Parelheiros, Cidade Ademar e Campo Limpo, na zona sul; Anhanguera e Tremembé, na zona norte; Aricanduva, na zona leste; e Lapa, na zona oeste – não possuem nenhum leito de UTI, mesmo concentrando 20% da população da cidade (2,3 milhões de pessoas).

“Este mapeamento revela, mais uma vez, a desigualdade estruturante na cidade mais rica do país. Nesse momento de crise, se por um lado São Paulo tem sido referência em medidas emergenciais, por outro os números atestam que estamos longe de atingir a equidade social. A desigualdade territorial segue acentuando as diferenças e tornando as populações ainda mais vulneráveis”, avaliou a Rede Nossa São Paulo.

Outros 16 distritos têm de dois a oito leitos de UTI para cada 100 mil habitantes da região para enfrentar a pandemia de coronavírus. O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde é entre 10 e 30 leitos desse tipo, para cada cem mil habitantes. Os distritos de Parelheiros e Freguesia do Ó poderiam ter uma situação menos complicada, se os hospitais que tiveram a construção iniciada na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), tivessem sido concluídos no prazo por seus sucessores, Doria e Covas.

Obra atrasada

O Hospital da Brasilândia, na Freguesia do Ó, devia ter ficado pronto em 2017, situação em que teria 305 leitos. Com o atraso, o governo Covas está acelerando obras para ativar 150 leitos de UTI no local, até o final deste mês. No entanto, a previsão do hospital é atender cerca de 2,2 milhões de pessoas na região. Já o Hospital de Parelheiros, que devia ter sido entregue em 2017, foi inaugurado em março de 2018, apenas com o Pronto Socorro em operação. A prefeitura também informou que está acelerando as ações na unidade para ativar 268 leitos de UTI para atender casos de coronavírus no local, até o início de maio.

Os três hospitais de campanha anunciados pelo prefeito da capital paulista, Bruno Covas, e o governador de São Paulo, João Doria, ambos do PSDB, também ficam nos distritos que concentram as UTIs, ou muito próximo deles. O hospital de campanha no Estádio do Pacaembu, com 200 leitos de baixa complexidade, fica no distrito da Sé. O do Ginásio do Ibirapuera, com 268 leitos, fica no distrito da Vila Mariana. E o do Anhembi, com 1.800 leitos, fica no distrito de Santana, na divisa com o distrito da Sé. Estes locais não terão UTI.