subnotificação

Coronavírus chegou no Brasil antes do registrado

Secretário do Ministério da Saúde afirma que primeiro caso no Brasil ocorreu em janeiro, um mês antes do que fora noticiado; pandemia avança rapidamente

Pedro Guerreiro/Ag.Pará
Pedro Guerreiro/Ag.Pará
Hospitais de campanha e a corrida contra o tempo: "Havia circulação em de janeiro de 2020, com um caso importado, é claro", disse Wanderson Oliveira, secretário nacional de Vigilância em Saúde

São Paulo – A covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, segue em ritmo de rápido avanço no Brasil, e no mundo. Até hoje (2), a informação oficial dos órgãos de saúde davam conta de que o primeiro registro do vírus no país teria acontecido em 26 de fevereiro. Mas em entrevista coletiva, membros do Ministério da Saúde afirmaram que o contágio inicial aconteceu antes disso.

Sem precisar a data do contágio, o secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, disse que a primeira morte pelo novo coronavírus aconteceu no dia 23 de janeiro, em Minas Gerais. O secretário afirmou que a mulher foi contaminada fora do país, assim como o caso do dia 26 de fevereiro, em São Paulo.

“Isso (a não notificação do caso) aconteceu com o zika vírus. Inicialmente achávamos que os primeiros casos eram de abril de 2015. Um ano depois, verificamos zika vírus em amostras de sangue desde abril de 2014. Os estados estão identificando ainda o coronavírus. Havia circulação em janeiro de 2020, com um caso importado, é claro. O caso está sendo investigado, mas com certeza”, disse Wanderson.

Falta de iniciativa

A ausência de ação para combate à pandemia do novo coronavírus já se mostrou desastrosa. O primeiro caso registrado no país foi em 30 de janeiro. Na ocasião, dois infectados foram identificados em Roma; era um casal de chineses. A transmissão comunitária – quando não é possível traçar a origem do vírus – foi registrada 18 dias depois.

Mesmo com o rápido crescimento de casos no país, no dia 28 de fevereiro, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, iniciou uma campanha pública para que quarentenas não fossem adotadas. “Milão não para”, dizia o político em um anúncio publicitário. Na ocasião, a região da Lombardia, onde está Milão, contava com 258 casos. O país registrava apenas dois mortos.

Hoje, a Itália vive uma tragédia sanitária. Com o colapso do sistema de saúde, o país registra o pior cenário possível da pandemia. São 115.242 casos até o fechamento desta reportagem. Os mortos passam de 14 mil – destes, 8 mil estão na Lombardia.

A subnotificação do novo coronavírus é uma preocupação das autoridades sanitárias do Brasil. Como a pandemia demorou algumas semanas a mais do que na Europa para chegar à América do Sul, a oportunidade de combate foi maior. Medidas de isolamento social foram adotadas por estados e municípios, à revelia do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que seguiu o caminho oposto da ciência e dos fatos ao ironizar a doença, chamando-a de “gripezinha” e “resfriadinho”.

Dados alarmantes

Os números do novo coronavírus no Brasil seguem em uma espiral crescente. De acordo com o próprio Ministério da Saúde, o país ainda vive o início da escalada dos casos. A subnotificação também é uma realidade. As autoridades indicam que para cada caso registrado existem dez não contabilizados, ao menos.

Outro fator essencial para entender a pandemia no Brasil é o atraso do panorama oficial. Apenas os casos mais graves hospitalizados e mortos são investigados. Isso significa que os dados atuais representam o cenário de, pelo menos, uma semana atrás. Isso, porque o novo coronavírus demora cerca de cinco dias para se manifestar. Enquanto isso, os contaminados assintomáticos seguem contaminando mais pessoas.

Um dos dados utilizados pelo Ministério da Saúde para tentar corrigir esse erro no tempo é a análise dos números de internados por Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sarg). A enfermidade pode ser provocada por diferentes tipos de vírus e bactérias, como o H1N1, Influenza A e B. Esses vírus são sazonais, eles seguem padrões de evolução ano após ano.

“Tivemos, no ano passado, o pico da curva na semana 21 e 22 do ano e agora estamos na semana 13. Obviamente teremos circulação de outros vírus respiratórios. É natural que ainda estejamos no início da sazonalidade de uma série temporal. No gráfico, vemos em amarelo o ano de 2016, que foi também puxado por São Paulo. Houve um aumento muito grande de internações”, disse Wanderson.

A análise simples dos dados revela que o cenário de hoje é absolutamente mais caótico do que o pior ano registrado no balanço do Ministério da Saúde.

A seguir, o gráfico que representa o aumento exponencial dos casos de Sarg, desconsiderando o agente infeccioso:


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