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Com sistema de saúde perto de colapso, Bolsonaro insiste em pregar fim da quarentena

Amazonas e Ceará já enfrentam situações dramáticas devido à falta de vagas nos hospitais. Em Pernambuco, situação é “crítica”, relata médico da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Equipe demitida por Bolsonaro acertou previsão de colapso do sistema entre o fim de abril e início de maio

São Paulo – Com atualizações das secretarias estaduais de Saúde, chegou a 2.769 o total de óbitos registrados por coronavírus no Brasil nesta quarta-feira (22). O total de casos confirmados soma 43.592. E a taxa de letalidade da doença é de 6,4%. Em meio ao avanço da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro disse, na segunda-feira (20), que espera que quer o fim da quarentena, “que esta seja a última semana”, criticando medidas de isolamento adotadas pelos governos estaduais.

Segundo o médico Pedro Carvalho Diniz, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e do podcast Medicina em Debate, o cenário tende a ser ainda mais grave, dada a subnotificação da doença. Entre os países afetados, o Brasil é um dos que menos realiza testes para diagnosticar a disseminação da doença.

Diniz lamenta que as declarações do presidente sejam dadas no momento em que o coronavírus atinge fortemente o sistema público. Diniz é especialista em urgência e emergência e diz, pelo que pôde constatar, que a equipe demissionária do ministério da Saúde acertou em prever a “fase de colapso” se daria entre o final de abril e início de maio.

No Amazonas, já não há mais leitos de UTI disponíveis. Devido ao aumento no número de óbitos, a prefeitura de Manaus decidiu adotar o sistema de trincheiras para enterrar vítimas da covid-19. O Ceará também se aproxima do colapso. Em Pernambuco, segundo o médico, a situação é “crítica”. Hospitais do Rio de Janeiro e de São Paulo também já estão saturados.

Negacionismo

“É muito preocupante ouvir o presidente, com essas declarações, no momento em que os leitos do SUS começam a ficar saturados. A gente sempre pensa no paciente da UTI, o mais grave. Mas existem outros dois impactos. O primeiro, os trabalhadores da saúde que são infectados e saem da linha de frente. E também por ser uma doença que muda muito a dinâmica do atendimento”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Devido à desinfecção necessária após o atendimento a um suspeito de contaminação por coronavírus, até mesmo o andamento das cirurgias é afetado, relatou o médico. Além da alta transmissibilidade, Diniz destacou a rápida evolução da doença. Segundo ele, o paciente contaminado leva cerca de cinco dias para manifestar os primeiros sintomas. Em outros cinco, já é necessária a internação em UTI, nos casos mais graves, para auxiliar o doente a respirar.

Pedro Carvalho Diniz saudou a atuação do Comitê Científico Consórcio Nordeste, coordenado pelo neurocientista Miguel Nicolelis, para fazer frente à posição “anticiência” adotada pelo presidente. Além de articular esforços na aquisição de equipamentos e desenvolvimento de novas tecnologias, o órgão deve auxiliar na compreensão da gravidade da doença.

Ao mesmo tempo que minimizam os impactos da doença, Bolsonaro e seus apoiadores também promovem a utilização de medicamentos ainda sem eficácia comprovada. “O próprio presidente falou, há algumas semanas, que era uma gripezinha, que não tinha problema algum”, lamentou o médico.

Confira a entrevista


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