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Coronavírus: interceptar a transmissão depende do coletivo, diz médica da Fiocruz

De sábado para domingo, houve aumento de 65% no número de casos, que chegaram a 200. São Paulo e Rio concentram a maioria, com 136 e 24 ocorrências respectivamente

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
"Milhares continuam sendo infectados e adoecendo e outras centenas morrendo e, esse tipo de narrativa, só ajuda a consolidar a ideia de que precisamos forçar a exposição da população", disse Jesem Orellana

São Paulo – Com 200 casos confirmados até o fim da noite deste domingo (15) de infecção por coronavírus no Brasil, de acordo com balanço do ministério da Saúde, é hora da população mudar hábitos com o objetivo de conter a propagação da doença. Segundo a pneumologista Margareth Dalcomo, é preciso evitar todo tipo de aglomerações, de praias a bares e até mesmo por festinhas de criança. “Vai depender do coletivo a interceptação dessa transmissão.”

Professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth diz que o intuito das ações de prevenção é evitar que a “curva epidemiológica” no Brasil não alcance “picos” como na China ou Itália, países que, até agora, registraram os maiores índices de contaminação.

Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual nesta segunda-feira (16), ela diz que o avanço dos casos, sobretudo nas grandes cidades – como São Paulo e Rio de Janeiro, que já registram a transmissão comunitária da doença – é “absolutamente esperado” pelos especialistas.

“O que nós queremos é que não aconteça o que aconteceu na Itália, e que a curva epidêmica de distribuição de casos seja suavizada pelas medidas que têm sido tomadas. Não há como impedir a propagação do vírus, porque é de contagiosidade muito fácil. Uma pessoa contagia três, quatro, e assim vai, geometricamente. O que queremos impedir é que a curva seja exponencial, e que o pico da curva não se faça de modo tão agudo, como ocorreu na China, por exemplo. Aprendemos muito com os países que já sofreram antes de nós”, afirmou a médica.

Isolamento

A médica também informou que a Fiocruz já entregou ao SUS cerca de 30 mil testes para a detecção da doença, e outros 80 mil estão sendo produzidos. Mas, segundo ela, é preciso conter a ida de pessoas que não apresentem sintomas às unidades de saúde à procura desses testes. Ao irem, se expõem à contaminação.

Mesmo os pacientes com sintomas leves, não devem procurar assistência, devendo se cuidar em casa. Viajantes que retornaram do exterior devem manter sete dias de auto-isolamento. Para aqueles que tiverem contato com pessoas que testaram positivo para a doença, o período de monitoramento deve ser de 14 dias.

Margareth reforça as recomendações de isolamento. Ela diz que as cenas registradas neste domingo (15), no Rio de Janeiro, que tiveram suas praias lotadas por banhistas, ferem o bom senso. “As pessoas não podem, inocentemente, achar que porque estão ao ar livre não serão contaminadas.”

Além da interdição das praias, ela defende que festas e demais eventos sociais sejam cancelados. Ela alerta que piscinas de bolinhas, que fazem sucesso entre as crianças, são fonte de “enorme contaminação”, por conta das superfícies lisas que podem abrigar o vírus. “Devem ser higienizadas e guardadas, para voltarem a ser utilizadas daqui três meses, quando esperamos que a epidemia comece a arrefecer.”

“São recomendações de bom senso, (é preciso) mais consciência de que estamos diante de uma epidemia de um vírus que se transmite com muita facilidade, que pode levar a casos graves. Esperamos que 20% dos casos precisarão ser hospitalizados. As redes privada e pública não têm condições de arcar com esse número, se nada for feito, no sentido da prevenção comportamental, individual e coletivamente”, acrescentou.

Transporte

Outra fonte de contaminação, explica, são as superfícies lisas dos transportes públicos, como alças, barras e assentos de ônibus, metrôs e trens. A pesquisadora reforça a recomendação de lavar muito bem as mãos, e também o rosto, com água e sabão, após o uso desses transportes. O álcool em gel é alternativa para os casos de mais difícil acesso aos lavatórios. Ela também sugere que empregadores e empregados flexibilizem os momentos de deslocamento para evitarem os horários de pico.

Idosos

Mais vulneráveis ao agravamento da doença, os idosos demandam cuidados específicos, mas não devem ser submetidos ao completo isolamento. As visitas de familiares devem ser controladas, e é recomendada a utilização de máscaras, de modo a evitar o contágio dos mais velhos. Trabalhadores em asilos e casas de repouso também devem adotar essas medidas. Margareth também classificou como “acertada” a decisão do ministério da Saúde de antecipar para 23 de março o início da campanha de vacinação contra a gripe comum, que também atinge, em especial, os mais velhos.

Confira entrevista da Rádio Brasil Atual


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