Combate à epidemia

Coronavírus: Brasil precisa parar, alerta biólogo

Para o doutor em microbiologia da USP Atila Iamarino, país não pode seguir o exemplo da Itália, que demorou para tomar medidas de isolamento total

Yuri Samoilov/Flickr
Yuri Samoilov/Flickr
Considerando os casos suspeitos de mortes causadas por Covid-19 na capital paulista número total pode ser muito maior

São Paulo – Para o biólogo e doutor em Microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) Atila Iamarino, Brasil precisa passar das medidas de mitigação que estão sendo tomadas pelo poder público para iniciativas mais contundentes, como o isolamento total, para combater o coronavírus.

“Não temos empresas parando, trabalho parando e todo mundo que poderia ser dispensado não está em casa. Nenhum país pode parar serviços essenciais, mas a circulação de pessoas precisa parar”, aponta. Segundo ele, o país tem duas opções para combater a epidemia: com a vida semi-restrita ou completamente restrita. Este último cenário, de acordo com o biólogo, seria o mais correto a ser adotado para salvar vidas.

Ele faz a comparação entre Itália e China para mostrar a importância se tomar medidas de restrição de circulação das pessoas. O fato de o país europeu ter adotado ações de contenção apenas poucos dias depois do que os chineses fizeram na mesma altura da curva epidêmica, fez com que os efeitos no país europeu fossem mais devastadores do que o corrido no país asiático.

Nesta sexta-feira (20), o país registrou novo recorde, com 627 mortos vítimas da covid-19. Até esta data, a China tinha registrado 3.254 mortes e a Itália, até a mesma data, 3.407 mortos.

Reportagem de Plínio Lopes, na revista Piauí, reflete a diferença entre os dois métodos. ” Na China, a rapidez para decretar a quarentena local, como aconteceu na província de Hubei, impediu que o vírus se espalhasse por todo o país. O fechamento total de estabelecimentos comerciais, além do rastreamento massivo de pessoas que tiveram contato com infectados, ajudou a conter os casos. Na Itália, a demora de quase quinze dias para adotar a quarentena nas regiões onde ocorreram os primeiros casos, na região da Lombardia, e a massiva quebra da mesma ajudou o vírus a se espalhar pela região Norte – e fez com o que país inteiro precisasse ser fechado.”

Coronavírus não é uma ‘gripezinha’

No vídeo em que dá o alerta a respeito das medidas a serem tomadas para conter a disseminação do coronavírus, Atila Iamarino refuta quem queira minimizar os efeitos do coronavírus. “A gripe comum não pode infectar todas as pessoas, porque parte delas já têm alguma imunidade à gripe.
O potencial de pessoas infectáveis por coronavírus é 100%, porque ninguém havia pego até hoje”, pontua.

Em entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dar declaração desdenhando da doença. “Depois uma facada não vai ser uma gripezinha que vai me parar”, disse. Em vídeo que circulou também na sexta, médicos do principal hospital de Bérgamo, na Itália, advertiram para a gravidade da covid-19, que pode ser severa em 20% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “A maioria dos pacientes tem pneumonia. É uma pneumonia muito severa”, disse um médico.

O biólogo também refuta o argumento de que há ‘outras doenças que matam muito mais”, utilizado recentemente, inclusive, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Essas doenças matam um número constante de pessoas todos os dias. O coronavírus está matando um número crescente.”

Ele adverte para o fato de que o coronavírus, ao superlotar o sistema de saúde, vai provocar mortes de outras pessoas que precisarem de assistência médica urgente. “Alguém que teve um problema cardíaco, ou acidente, vai morrer porque não tem atendimento em unidades de terapia intensiva.”

Ficar em casa é o melhor a fazer

Atila pontua que as pessoas precisam compreender que a rotina precisa ser modificada. “A nossa vida já mudou. Não tem mais retorno, o coronavírus já está aqui, se espalhou no mundo inteiro, vai infectar muita gente e mais gente ainda se não fizermos nada”, diz.

“Não fique contando com curas, com gargarejos, com qualquer ritual para combater o coronavírus”, recomenda, lembrando que, embora muitos países estejam trabalhando no desenvolvimento de vacinas, elas só devem estar disponíveis para a população em um prazo de um ano a um ano e meio.

O principal conselho do biólogo, neste momento, é o isolamento. “Ficar em casa é o melhor que a gente tem a fazer para combater isso.”

Confira o vídeo completo abaixo:


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