Irresponsabilidade de presidentes

Cloroquina, ainda em testes contra coronavírus, intoxica duas pessoas na Nigéria

Medicamento, incensado por Trump e Bolsonaro, está indisponível em farmácias brasileiras, prejudicando pacientes de malária, lúpus eritematoso e artrite reumatoide

Yuri Samoilov/Flickr
Yuri Samoilov/Flickr
Considerando os casos suspeitos de mortes causadas por Covid-19 na capital paulista número total pode ser muito maior

São Paulo – Autoridades da Nigéria informaram que ao menos duas pessoas foram intoxicadas por uso de cloroquina no estado de Lagos, na sexta-feira (20). Junto com a hidroxicloroquina, o medicamento, usado para tratar malária, lúpus eritematoso e artrite reumatoide, vem sendo testado contra o coronavírus. Os resultados preliminares, entretanto, ainda não são conclusivos sobre a sua eficácia contra o vírus causador da covid-19.

“Depois das declarações de Donald Trump sobre o medicamento, isso tomou uma outra dimensão. As pessoas causam tumulto nas farmácias para comprar cloroquina”, afirmou a assessora de saúde do governador de Lagos Ore Awokoya, fazendo referência a mensagens que circularam em redes sociais apontando que o medicamento trataria a infecção por coronavírus.

Trump exigiu que a FDA, agência que regulamenta os medicamentos no país, acelere a liberação do uso desta substância para enfrentar a epidemia. Neste sábado (21), o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, seguiu a mesma linha, anunciando que o Exército aumentaria a produção do remédio. Segundo ele, o Hospital Israelita Albert Einstein teria iniciado testes do medicamento em pacientes infectados pelo coronavírus.

A promessa de Bolsonaro vai no sentido contrário a recomendação da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, na quinta-feira (19), divulgou nota afirmando que os resultados em relação à eficácia do medicamento eram preliminares. “A Anvisa reforça que, para a inclusão de indicações terapêuticas novas em medicamentos, é necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido.”

No Brasil, diversos pacientes que necessitam da cloroquina se queixam de não encontrar mais o medicamento à venda. Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, anunciou que a Anvisa estava proibindo a comercialização do produto sem receita médica. “Ninguém vai poder tirar da farmácia para guardar para usar contra o coronavírus. Primeiro, esse medicamento tem uma série de efeitos colaterais graves. Obviamente ele só pode ser usado com prescrição médica e o paciente tendo consciência do risco que ele tem.”


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