Brasil soma 904 casos de coronavírus e 11 mortes. Sistema de saúde deve colapsar em abril
O crescimento do número de casos do novo coronavírus no Brasil está só no começo. Bolsonaro chama pandemia de “gripezinha”
Publicado 20/03/2020 - 19h20
São Paulo – O Brasil tem 904 casos confirmados de coronavírus, com 11 mortes. A pandemia da covid-19 no país mostra um rápido avanço, similar a países que apresentaram colapsos nos sistemas de saúde. É apenas o começo do problema. “São Paulo está ainda no início da espiral”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Mandetta ressaltou que o sistema de saúde nacional deve colapsar no final de abril. “Devemos entrar em abril com uma subida rápida no número de casos. Vai durar maio e junho, quando deve entrar em tendência de desaceleração. Em julho, deve começar um platô. Em agosto, começa a tendência de queda”, completou.
Tal cenário apresentado pelo ministro segue a lógica chinesa, país que já vive o fim do ciclo epidemiológico. “Em setembro, será uma queda profunda, tal como foi na China em março. Esse é o parâmetro que o mundo ocidental está trabalhando.”
Presidente na contramão
O presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro (sem partido), participou da coletiva junto do ministro da Saúde. Bolsonaro viajou, no início do mês, com uma comitiva para os Estados Unidos. São 22 infectados com o novo coronavírus.
Mesmo diante da situação de calamidade, aprovada hoje pelo Senado, e das perspectivas extremamente preocupantes, Bolsonaro desdenhou novamente da doença. “Depois uma facada não vai ser uma gripezinha que vai me parar”, disse.
A “gripezinha” já matou mais de 11 mil pessoas em todo o mundo e o número tende a subir nas próximas semanas. É importante o fato de que não se trata de uma gripe, de acordo com cientistas, mas de uma possibilidade de pneumonia severa.
A postura de Bolsonaro, ainda atrasada em relação aos efeitos e aos prognósticos da pandemia, levou movimentos e ativistas digitais a convocar novos panelaços para a noite deste sábado, quando o presidente pretende fazer sua festa de aniversário – distribuindo cards como o visto abaixo.
Colapso
O colapso do sistema de saúde vem junto com uma crise econômica severa. O governo já projeta um PIB sem crescimento para esse ano. Uma estimativa otimista. De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é possível uma recessão de 4,4% do PIB, maior queda desde 1962.
A crise também pode afetar o abastecimento das cidades. Mandetta fez um apelo aos estados para que ações de isolamento sejam tomadas coletivamente, para evitar problemas de logística. O alerta veio junto com uma crítica velada ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que ordenou uma quarentena no estado, cancelando voos de todo o país.
“Colapso pode acontecer não só pela saúde. Fechar estradas pode paralisar oxigênio, por exemplo. Se não fizermos nada, todos fazendo coisas não essenciais, teremos grandes problemas. Essencial é alimento. Se fechar tudo, como vão se alimentar? Cloro para a água. Movimentar medicamentos. Trabalhadores de saúde precisam chegar no hospital, dependem do transporte público. Essas decisões são fáceis de ser feitas. Precisam ser precisas, pensadas e organizadas”, disse o ministro.