Setembro Amarelo

Número de jovens reincidentes em tentativa de suicídio aumenta a cada ano

Pacientes que passaram por clínicas relatam falta de humanização do tratamento e de compreensão dentro de casa

EBC
EBC
Psicólogo diz pressão que os jovens sofrem, atualmente, colabora mais para casos de suicídio. 'Pais têm cada vez menos recursos para lidar com o problema'

São Paulo – Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80 mil pessoas cometem suicídio a cada ano. Esta é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos. No mundo, 79% dos casos ocorrem em países em que a maioria da população é de baixa e média renda. De acordo com a entidade, o fator de risco mais relevante para o suicídio é a tentativa anterior.

O psicólogo da rede pública de saúde em São Paulo Alexandre Cespedes comenta a pressão que os jovens sofrem, atualmente, colabora mais para casos de suicídio. “A gente percebe que os jovens sofrem cada vez mais pressão, seja da família ou da sociedade. Os pais têm cada vez menos recursos para lidar com a vida do jovem, sem conseguir ajudar de forma adequada. Isso pode desencadear um transtorno leve em um transtorno grave, que depois, resulta em morte”, afirmou, em entrevista à repórter Juliana Almeida, da Rádio Brasil Atual.

O médico aponta que os casos mais frequentes são de transtornos bipolares e depressivos. “A gente percebe que o suicídio é a ponta de um iceberg e acontece com pessoas com um tipo de perfil. Por exemplo, um depressivo ou bipolar corre mais riscos. Então, quando temos um paciente assim, já trabalhamos sob esse contexto”, explica.

Sara, produtora de tevê, teve três tentativas de suicídio. Passou pela UTI até chegar à internação involuntária em um centro de reabilitação. Ela comenta que o tratamento dado aos pacientes ainda não é o ideal quando se trata de suicídio. “Numa clínica, eles colocam todos no mesmo saco. Isso é desumano, mas eles vendem para os pais que estão fazendo o melhor tratamento possível e que, nós, que estamos doentes, não percebemos isso”, lamentou.

Uma situação que marcou a estadia na clínica foi um jovem que faleceu por falta de cuidados médicos do hospital. “Ele tinha 25 anos, foi para uma solitária após ficar com uma menina da clínica. Dentro da solitária, ele arrumou briga com um dos internados e ataram ele na cama. Porém, o menino tinha apneia do sono e problema de respiração, mas amarram ele de uma forma que dificultou sua respiração. Ele acabou tendo um infarto, a clínica não tinha equipamento para prestar socorro e acabou morrendo”, relatou.

Apesar das situações que presenciou, Sara conseguiu absolver bons ensinamentos no período de internação. “Foi a melhor coisa que aconteceu comigo, no ano passado. Foi traumático também, porquê a forma que é tratado (o suicídio) é retrógrada. A gente é só um número ali dentro, então você surta, diariamente”, acrescentou ela.

Amanda, de 26 anos, foi reincidente ao tentar tirar a própria vida. Ela comenta que o maior erro do paciente é parar o tratamento e acompanhamento, ao notar qualquer sinal de melhora. “Eu abandonei o tratamento que eu fazia, e isso é um grande erro das pessoas com problemas psiquiátricos. Então, eu interrompi o medicamente e, há dois atrás, tive um episódio de pânico. Desde então, tento uma consulta no SUS, mas é muito difícil numa data próxima”, conta.

Para Amanda, ainda existe resistência dos familiares para aceitar uma doença psicológica. “No começo foi estranho, as pessoas demoraram para entender o problema. Só depois do segundo episódio de tentativa de suicídio que eles compreenderam que é preciso tomar remédio, ter acompanhamento. É difícil entender uma doença que não é visível”, finalizou.

Ouça a reportagem completa

Leia também

Últimas notícias