Saúde pública

Senadores querem manter aberta fábrica de amianto, que causa câncer, em Goiás

Depois do STF decidir que não há níveis seguros de exploração do minério, parlamentares querem garantir o funcionamento da mina na cidade de Minaçu para fins de exportação

Arquivo/EBC

O amianto é uma fibra utilizada na construção de telhas e seu banimento exige adaptações das empresas

São Paulo — Responsável pelo surgimento de diversos tipos de câncer e outras doenças, o direito pela exploração do amianto continua em disputa no Brasil. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir, em novembro de 2017, pela inconstitucionalidade da lei que permitia o uso do minério, uma decisão liminar da ministra do STF Rosa Weber autorizou a empresa Sama a continuar os trabalhos de sua mina na cidade de Minaçu, em Goiás.

Agora, um grupo de senadores, liderados pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tenta garantir o direito da empresa de explorar amianto para a exportação. A justificativa dos senadores se baseia na criação de cerca de 2.800 empregos diretos e indiretos, sem, no entanto, considerar os riscos à saúde.

“Essa é uma discussão que se arrasta há três décadas. Não houve por parte dos políticos de Goiás a criação de uma alternativa para a cidade quando o amianto deixasse de ser utilizado. Eles não se prepararam, não houve por parte deles nenhuma preocupação social com aqueles que estão doentes ou vão deixar de ter o emprego. A situação é grave e têm que ser tomadas decisões de políticas públicas para amenizar o fechamento da mina”, afirma Fernanda Giannasi, engenheira fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (AbreaA), em entrevista a Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual

Segundo Fernanda, desde a decisão do STF, as empresas foram se adaptando, “umas por convicção, outras porque foram pressionadas a fazer a mudança”. Entretanto, a Sama, empresa do grupo Eternit, é a única mineradora ainda atuando no que ela define como “a geopolítica do amianto”. O Brasil já foi o terceiro maior produtor e exportador do minério e o quarto maior utilizador de amianto no mundo. “O Brasil sempre teve um papel importante no mercado desse produto tóxico”, diz a engenheira. 

Para ela, a proposta de permitir a exploração do amianto para fins de exportação é uma medida que não considera a saúde dos trabalhadores e nem das pessoas de outros países. “O Brasil fica livre do amianto, mas a indústria quer manter a exportação, ou seja, o que não é bom para os brasileiros, pode mandar para outros países. Essa é a lógica do capitalismo, a transferência do risco.” 

“Caso haja a liberação da exportação, eles vão continuar explorando, não querem buscar alternativas, querem continuar vivendo a ilusão de que vão conseguir manter esse negócio lucrativo por muito tempo”, pondera a fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto, citando cânceres de pulmão, laringe e ovário como doenças reconhecidamente causadas pela exposição ao amianto, assim como o endurecimento do tecido pulmonar, o que prejudica a respiração e leva a morte. “É um problema grave de saúde pública.” 

Ouça a entrevista na íntegra 

 

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