Plano B

Mais Médicos: governo Temer corre para evitar fracasso após saída de cubanos

Cerca de 3 mil médicos brasileiros inscritos, que teriam de começar a trabalhar até hoje (14) ainda não apareceram. Novo edital exigiria regras mais rígidas para evitar que profissional selecionado desista de assumir o posto

Carol Garcia/GovBa/CC

Maioria dos municípios com médicos ausentes estão localizadas em áreas de maior vulnerabilidade social

Brasília – Encerra-se nesta sexta-feira (14) o prazo para que cerca de 3 mil profissionais médicos que foram selecionados no novo edital do programa Mais Médicos,  apresentem-se nos municípios onde iriam trabalhar. Segundo informações obtidas pela reportagem da RBA, o clima entre servidores do Ministério da Saúde (MS) responsáveis pela administração do programa é de constrangimento.  

Ainda para esta sexta-feira, o ministério tinha ficado de divulgar um balanço sobre o tema mas, até o fechamento desta matéria, ainda não havia confirmado a expectativa.

Desde quarta-feira (12), foi montada uma força-tarefa formada por servidores de vários departamentos do MS para telefonar diretamente para cada um dos profissionais médicos, perguntar o motivo pelo qual não compareceram aos municípios e saber se é possível resolver eventuais entraves burocráticos para que assumam seus postos, como dificuldade para juntar os documentos exigidos. 

Um servidor do MS disse à RBA que estão sendo estudadas três alternativas, por parte do Executivo federal para resolver o problema. As medidas deverão ser postas em prática até a próxima segunda-feira (17). A primeira é o adiamento da data de apresentação destes médicos atrasados em mais uma semana. A segunda é o lançamento de um novo edital chamando os selecionados remanescentes. 

A terceira alternativa, considerada a mais viável por especialistas, é a de edição de um novo edital, exigindo outras inscrições e apresentação de documentação para os interessados e zerando o processo de seleção para as vagas remanescentes.

Estratégia desastrada 

Entre médicos e profissionais de políticas públicas em Saúde corre a versão de que o quadro é consequência da própria estratégia do governo de Michel Temer, que diante do pequeno número de inscritos no programa, em novembro, buscou articulações com universidades e conselhos regionais de medicina para que fossem antecipados certificados e diplomas para recém-formados. Muitos destes documentos, apesar do esforço feito, não teriam ficado prontos a tempo. 

Mas a situação, na avaliação de especialistas e de entidades como o conselho de secretários municipais de Saúde é de que muitos dos inscritos desistiram de se apresentar em função da distância e da situação precária dos municípios – a maior parte dos médicos que não se apresentaram estava destinada a cidades consideradas com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e, por isso, de maior vulnerabilidade, sobretudo da região Norte do país. 

“É simples deduzir o que aconteceu. Médicos recém-formados se animaram com um salário de R$ 10 mil, mas depois pensaram bem, analisaram as circunstâncias e preferiram ganhar menos e ficar nos grandes centros urbanos. É agora que os rincões do Brasil vão perceber, de fato, a falta que farão os médicos cubanos”, disse o chefe de um setor do ministério que pediu para não ser identificado. 

O governo também se prepara para outro problema, que é a redução de profissionais do programa Saúde da Família, que se inscreveram e foram aprovados para o Mais Médicos para ganharem mais. O temor na pasta é de que, caso esse remanejamento se concretize, o problema de déficit no atendimento de saúde no país apenas passará de um programa para outro. 

No total, foram abertas 8.393 vagas para médicos em dois editais. O primeiro, somente para brasileiros. O segundo, para estrangeiros com interesse em trabalhar no Brasil, incluindo os cubanos.

decisão de retirar os médicos cubanos do Brasil foi anunciada por Cuba há um mês, após a ataques do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) contra o programa e a sua intenção de condicionar a permanência dos cubanos a alterações na forma de contratação, além de aplicação de teste de capacidade

Bomba-relógio

Segundo informações da colunista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, em reunião ocorrida nesta quinta-feira (13), quando o balanço preliminar foi apresentado a representantes da área da saúde das esferas municipal, estadual e federal, gestores manifestaram preocupação com a possibilidade de perderem “boa parte” dos mais de 4 mil médicos que já começaram a trabalhar, a partir de março do ano que vem, quando começam as residências médicas pelo país.

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