Ex-reitor da USP

Novo gestor da Saúde de SP, Zago sinaliza piora do atendimento à população

Trabalhadores do setor lembram que, além de defender o fim do Hospital Universitário da USP, ele incentivou a demissão voluntária de médicos, enfermeiros e funcionários administrativos

Lucas Duarte de Souza/RBA

Hospital Universitário da USP, que vem sendo sucateado, atende pessoas da capital e municípios vizinhos

São Paulo – Para dar sequência à política de Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o governo de São Paulo para disputar a Presidência da República, o governador Márcio França (PSB) escolheu um nome sob medida para a secretaria estadual da Saúde: o médico Marco Antonio Zago, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP). A avaliação é dos dirigentes do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) Gerson Salvador e do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde) Gervásio Foganholi, que consideram a política iniciada pelo governador tucano mais comprometida com interesses do setor privado do que com a saúde da população.

Reitor da maior universidade brasileira de 2014 a 2018, o ex-professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto fez uma gestão polêmica em relação ao Hospital Universitário da instituição, o HU, que segundo ele deveria ser desvinculado da universidade por representar custos. Além disso, incentivou a demissão voluntária de médicos, enfermeiros, técnicos e pessoal administrativo.

“Zago é a favor da demissão voluntária e desmontou diversos serviços na universidade, esvaziou setores e reduziu a sua importância, fazendo a USP perder pontos em diversos rankings internacionais e perder espaço para a Unicamp, também estadual, que recebe os mesmos recursos. Zago deixou a USP pior do que recebeu. E fez de tudo para desvincular o HU. Como não conseguiu, fechou diversos setores”, disse Gerson Salvador, servidor do HU.

Além de espaço de formação para os graduandos em Medicina, Enfermagem e outros cursos da saúde da universidade, o hospital é referência em atendimento à população de diversos bairros e municípios vizinhos à capital paulista. Até 2013 prestava 282 mil atendimentos de emergência e 13 mil internações, além de 12 mil consultas ambulatoriais, 400 cirurgias, 3.543 partos, 140 mil exames de imagem e 965 mil exames laboratoriais custeados com apenas 8% da verba destinada à USP. No ano passado fechou os ambulatórios de pediatria e clínica médica.

Governo de SP
Elogiado pelo governador Márcio França, Zago tentou tirar da USP a responsabilidade com o próprio hospital universitário

Competente

“O novo governador, Márcio França, já elogiou publicamente Zago, que considera competente por economizar recursos à custa da saúde e da vida de pessoas que necessitam de atendimento”, disse Salvador, que defende a mobilização e a luta política de toda a sociedade, com participação da população usuária, em defesa da saúde pública frente ao avanço da agenda privatista do setor. “Empresas estrangeiras estão passando a controlar a saúde no Brasil, cuja política nacional congela por 20 anos investimentos no setor e incentiva planos privados de baixo custo pela cobertura reduzida e defende a realização de procedimentos de alta complexidade com subsídios governamentais. Precisamos confrontar essas teses, como fizeram aqueles que lutaram e conseguiram criar o SUS, e enfrentar essa política vai justamente contra a saúde pública”. 

Gervásio Foganholi lembra que a gestão que Zago dará continuidade é marcada pela ampliação do controle privado das unidades de saúde em detrimento da desvalorização dos servidores públicos, o que afeta diretamente a qualidade do atendimento à população.

Com os salários achatados em pelo menos 44% devido à inflação acumulada nos últimos cinco anos, são beneficiados com vale-refeição apenas os servidores que recebem até R$ 3.777. Além disso, os servidores esperam há anos por um acordo com o governo estadual para unificar as jornadas de trabalho e discutir a incorporação dos chamados planos de incentivo.

“Quando o estado deixa de investir no servidor, a população também perde. Ao entregar os serviços para a iniciativa privada, como as organizações sociais, que administram metade de todas as unidades de atendimento, os usuários dos serviços ficam à mercê dos interesses privados, que são os lucros, e não as demandas regionais. A população sofre também com a precarização do atendimento devido à maior rotatividade dos trabalhadores”, disse Foganholi.

O diretor do Sindsaúde lembrou que os hospitais entregues pelo governo Alckmin em Registro, São José dos Campos, Sorocaba, além da ampliação do regional de Itanhaém e a filial do Emílio Ribas no Guarujá, são todos geridos por organizações sociais.

“A gente tem muito problema com as organizações sociais, que recebem do estado mas não são fiscalizadas. Entre elas, há muitas de outros estados, suspeitas de irregularidades. E quando a gente consegue uma CPI para investigá-las, o governo esvazia as sessões. Para complicar, a gestão Alckmin veio esvaziando setores importantes, como a vigilância epidemiológica. Fez até projeto de lei para extinguir a Sucen. Empurra para os municípios, que não têm como fazer esse trabalho. Não é à toa que em seu governo houve aumento da ocorrência de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Deixou de investir em institutos de pesquisas, como o Butantan, optando por sucatear para justificar uma privatização”.

Foganholi considera que São Paulo terá seu sistema de saúde totalmente privatizada caso enfrente mais duas gestões como a de Alckmin, seguida agora por França. “O serviço público, conforme estabelecido pelo SUS, corre o risco de extinção no estado que quer privatizar a melhor estrutura de saúde de todo o país. Além de unidades de saúde e hospitais, a gestão Alckmin entregou à iniciativa privada laboratórios como o da Furp, em Américo Brasiliense, e fechou unidades de entrega de medicamentos do Dose Certa. Então, quem não puder pagar, será duramente prejudicado.”

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