Minha UBS, meu orgulho

População conquista unidade de saúde na zona leste de SP e já pensa em novas lutas

Com aproximadamente 12 mil habitantes, o Jardim Helian sofre com a falta generalizada de equipamentos públicos e no último mês conseguiu uma nova Unidade Básica de Saúde após doze anos de luta

Lucas Duarte de Souza/RBA

Rodrigo (ao centro) com os moradores do Jardim Helian, na nova unidade: ‘A luta faz diferença na vida das pessoas’

São Paulo – Com aproximadamente 12 mil habitantes, o Jardim Helian, próximo a Itaquera, na zona leste da capital paulista, é um bairro bastante tranquilo. Comunidade típica em que “todo mundo se conhece”, o local tem como principal problema a falta generalizada de equipamentos públicos. Não há creche, espaços culturais, centros esportivos ou mesmo parquinhos para as crianças. Após doze anos de luta, ao menos um deles a população vai conquistar, embora ainda esteja aquém do que os moradores esperam: a nova Unidade Básica de Saúde do Jardim Helian, aberta no final de setembro.

“É uma satisfação muito grande e mostra que não se perde tempo fazendo a luta por melhores serviços, fazendo valer o direito da comunidade. Foram onze anos de promessas, enganando nosso povo. A gente viu que quando se organiza consegue fazer valer os nossos direitos. Agora temos o próximo passo, que é a creche. O único equipamento público que temos é a UBS”, explicou Rodrigo Martins, morador do bairro e apoiador da Associação dos Moradores do Jardim Helian.

A conquista é de uma “nova” unidade para o bairro, que tem uma UBS há 40 anos. Porém, a precariedade do equipamento era tanta que muitos moradores deixavam de buscar atendimento no local. A primeira unidade ficava em uma casa muito pequena, que hoje nem existe mais, na mesma rua do prédio atual. Com a chegada da Organização Social de Saúde Santa Marcelina para realizar a gestão do equipamento, a unidade mudou de endereço. Mas manteve muitos problemas.

 

A recepção da unidade ficava na garagem do sobrado. Os consultórios ficavam no andar de cima e era preciso cuidado para não bater a cabeça no teto ao subir a estreita escada de acesso. Os consultórios ficavam no que antes eram os quartos e a população precisava dividir apenas um banheiro. 

“Quando vim pra cá, o posto era pequenininho. Depois mudou lá pra baixo, um sobrado. Mas mesmo assim era um aperto no corredor, consultórios muito apertados, não tinha ventilação. O povo ficava aglomerado, um calor terrível, tinha de fazer fila do lado de fora porque o povo não cabia”, explicou a dona de casa Célia Maria Pereira Neves, moradora do bairro há 30 anos.

Respeitado como cidadão em suas especificidades. Era como o conselheiro gestor Odécio Gomes queria se sentir também. Cadeirante, ele sequer podia acessar a unidade de saúde, era atendido por telefone ou em sua casa. “Tinha um posto na minha rua e eu não podia nem entrar nele. Agora tem um elevador pra eu ir conversar com a gerente, acessar os consultórios do piso superior”, comemorou.

Dentre as muitas mobilizações feitas pelos moradores estão manifestações, audiências na Câmara Municipal, reuniões com vários coordenadores e supervisores de saúde, protestos e ocupação da Secretaria Municipal de Saúde e até uma viagem a Brasília para participar da assinatura de um convênio de financiamento para as obras da nova unidade, em 2014.

Os moradores tiveram encontros com três secretários municipais até conseguir encaminhar  a reivindicação. José Maria Costa Orlando, secretário adjunto de Saúde na gestão de Gilberto Kassab (PSD); José De Filippi, primeiro secretário de Saúde na gestão de Fernando Haddad (PT); e o ex-ministro da Saúde e segundo secretário da pasta na gestão Haddad, Alexandre Padilha. 

Após muitas idas e vindas, somente em 2016 a população teve uma resposta efetiva. Foi quando o então secretário da Saúde Alexandre Padilha propôs a locação e a reforma de um prédio de 788 metros quadrados para abrigar os nove consultórios, elevador, sala de dentista e de medicação da nova unidade.“Aqui ficou uma maravilha o posto”, completou Célia, que diz se sentir mais respeitada como cidadã na nova unidade.

Os moradores participaram da elaboração do projeto e depois foi formada uma comissão para acompanhar o desenvolvimento da obra e a execução do orçamento. “Todo o processo foi acompanhado muito de perto pela população. Não é à toa que o resultado agrada tanto a comunidade, afinal, é fruto da luta e também da fiscalização e da participação da sociedade”, destacou Rodrigo. 

Claro que ainda faltam muitas coisas. E o principal é a formação de uma equipe médica completa, com ginecologista, pediatra, dentista. Algo que a população também reivindica há anos. “Já faz dois anos que estamos sem ginecologista. Eu fiz uma mamografia e não tem quem analise. Esperamos que coloquem logo mais médicos”, reclamou Célia. 

A nova unidade ainda não foi oficialmente inaugurada pela prefeitura de São Paulo. No entanto, os moradores já fizeram uma grande festa comunitária para celebrar a abertura da nova unidade, no dia 12 de agosto. “Sem políticos, que isso aqui é resultado da luta e do envolvimento da comunidade. Cada vereador ou gestor que colaborou de alguma forma, nós agradecemos, mas não vamos servir de palanque”, destacou Martins. 

Apesar dos problemas ainda existentes, todos os entrevistados ressaltaram a dedicação e o cuidado do grupo da Estratégia Saúde da Família que atua na unidade. “É uma equipe muito boa, sempre preocupada em fazer o melhor para a população, mesmo quando a situação era precária. Se não fosse pelo trabalho dessa equipe, a comunidade teria muito mais problemas, somos muito agradecidos”, ressaltou o conselheiro Décio.

Por meio de nota, a secretaria municipal de Saúde informou que “a UBS Jardim Helian, em sua nova estrutura de 509,88 m² construídos, ampliará de uma para quatro equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF). Desta forma, serão assistidas, em média, 12,5 mil famílias. Todo o espaço físico foi reformulado, para oferecer serviço de saúde com qualidade e melhor acolhimento aos usuários da região.

A nova unidade contará com salas equipadas de medicação, curativo, inalação, vacina, expurgo hospitalar, eletrocardiograma e emergência; espaço para grupos educativos com a comunidade e também atendimento de saúde bucal, além dos serviços já oferecidos anteriormente, como dispensação de medicamentos, consultas médicas e de enfermagem. No momento, o quadro de médicos está completo.

Atualmente, na unidade, estão em acompanhamento de pré-natal 70 gestantes, 141 crianças menores de um ano em acompanhamento de puericultura, 489 hipertensos e 144 diabéticos identificados e acompanhados.”

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