Risco e ineficácia

Brasil é citado em relatório britânico contra Aedes transgênico

Documento entregue às autoridades das Ilhas Cayman, no Caribe, aponta riscos à saúde e a ineficácia dos mosquitos, e pede a suspensão da liberação pela Oxitec. A empresa é a mesma que opera no Brasil

Cresce constatação de que efetividade dos mosquitos transgênicos na redução da população do Aedes não seria exatamente a anunciada pela empresa detentora da patente desta tecnologia

São Paulo – A organização britânica GeneWatch Uk divulgou este mês relatório que aponta riscos à saúde e a ineficácia dos mosquitos transgênicos da Oxitec na redução da população do Aedes aegypti selvagem, transmissor do vírus das infecções dengue, chikungunya e zika. O estudo acompanhou os resultados do experimento nas Ilhas Cayman, no Caribe – arquipélago pertencente ao Reino Unido e mais conhecido como paraíso fiscal.

documento, que foi encaminhado às autoridades de saúde das ilhas, tem como base um relatório anual de um órgão governamental local, o MCRU (sigla em inglês para Unidade de Controle e Pesquisa do Mosquito/Mosquito Resarch and Control Unit). O objetivo é informá-las sobre os riscos, já que a liberação dos espécimes transgênicos pelas autoridades locais foi acertada antes da divulgação dos estudos pelo MCRU.

Brasil

O documento menciona o caso brasileiro, onde a Oxitec também atua. Na página de número 7, cita uma reportagem da rede de TV do mundo árabe Al Jazeera (assista vídeo abaixo).

Com duração de 24 minutos, o jornalístico, que foi ao ar em 29 de novembro passado, chega a questionar, entre outras coisas, os índices de eficácia da tecnologia.  Enquanto a Oxitec fala em redução de 90% da população de Aedes selvagem, o programa mostra dados bem menores, de 60%.

Ouvido pelo programa da Al Jazeera, o pesquisador brasileiro Danilo Carvalho confirmou à RBA a redução de 60% na população – uma diferença de um terço em relação ao divulgado pela empresa.

De acordo com o pesquisador, que estudou a população para seu mestrado e doutorado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP), os dados podem variar de acordo com o período avaliado.

“A avaliação que eu fiz utilizou os dados sem nenhum tipo prévio de análise/tratamento e contemplou todo o período de liberação do inseto independentemente de ajustes de parâmetros”, disse. “A avaliação da Oxitec considera o período posterior em que todos os ajustes da técnica já haviam sido feitos. Em outras palavras, esse seria o período mais eficiente de utilização do inseto.”

Ainda segundo o pesquisador, as interpretações a respeito desse dado, apesar de distantes (60% para 90%) são diferentes. Mesmo assim, mostram uma redução significativa. “Eu mantenho minha declaração de 60 a 70% de redução, mas quero ressaltar novamente que isso depende do período e da forma como se faz a análise.”

Procurada pela reportagem para comentar o relatório da GeneWatch, a Oxitec preferiu não se manifestar.

De origem britânica – nasceu em encubadora na Universidade de Oxford, na Inglaterra – a Oxitec é atualmente uma subsidiária da Intrexon, empresa estadunidense líder mundial em biologia sintética.

Os mosquitos transgênicos, que já são liberados em 14 bairros de Piracicaba, no interior de São Paulo, e estão prestes a ser vendidos para a prefeitura de Juiz de Fora (MG), foram aprovados para uso comercial pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em abril de 2014. A autorização vale para comercialização em todo o país.

No começo de agosto, a CTNBio aprovou uma nova linhagem de mosquitos, que deverá ser solta em Indaiatuba, também em São Paulo. A aprovação das duas linhagens não levou em consideração os riscos, apenas a versão da empresa detentora da tecnologia.

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