estado crítico

Hospitais ligados a universidades públicas em SP estão à beira do colapso

Voltados ao ensino médico e ao atendimento em alta complexidade, como transplantes, eles estão com orçamento estrangulado. Cirurgias eletivas estão sendo desmarcadas e tratamentos de câncer correm risco

Reprodução/Ameresp

Em crise, o Hospital São Paulo é alvo de seguidas greves de residentes, como a de junho de 2015, quando abraçaram o prédio

São Paulo –  Os principais hospitais vinculados a universidades estaduais e federais no estado de São Paulo passam por série crise financeira que reflete em piora na infraestrutura e pessoal e prejudica ainda mais o atendimento. Por causa disso, em várias regiões do estado a população tem de esperar ainda mais por consultas, exames e cirurgias. Na maioria, apenas as mais urgentes não estão sendo canceladas. 

A situação mais grave é a do Hospital São Paulo (HSP), que cortou praticamente pela metade a média mensal de internações, passando de 600 para 350. Das cirurgias, apenas as de urgência continuam sendo feitas. As demais, todas canceladas.

Hospital de grande porte como o das Clínicas, Santa Casa e Santa Marcelina, o HSP acumula R$ 160 milhões em dívidas. Deve R$ 150 milhões para bancos e R$ 10 milhões a fornecedores.

As dificuldades financeiras são antigas, mas se agravaram em 2016, quando prestou 36 mil atendimentos, 13 mil cirurgias e 1.200 internações. Primeiro hospital-escola a ser construído em São Paulo, na década de 1930, quando foi criada a Escola Paulista de Medicina, o HSP tem 1.600 alunos, dos quais 1.100 residentes médicos, e 5.000 funcionários. Ali são prestados atendimentos de pronto-atendimento, ambulatório e média e alta complexidade, como cirurgias de grande porte e as que exigem utilização de tecnologia médica de ponta.

Localizado na zona sul da capital, o hospital mantém 740 leitos e é referência para mais de 5 milhões de habitantes na capital e ABC paulista. Mas recebe pacientes de praticamente todas as cidades do interior e de outros estados, que procuram pelo atendimento especializado em oftalmologia, serviço dos mais avançados do Brasil.

“O orçamento é de R$ 9,8 milhões mensais, o mesmo de 2008. De lá para cá, a variação da inflação foi de 65%”, disse o diretor administrativo Marcelo Santos. Ontem (24), ele esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo em reunião da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas no Estado de São Paulo para debater o tema. Coordenada pelo deputado Carlos Neder (PT), a frente reúne periodicamente reitores, professores e demais servidores, além de estudantes e comunidade para discutir saídas para os principais problemas enfrentados nas universidades estaduais e federais localizadas em todo o estado de São Paulo. 

A situação financeira do HSP foi agravada a partir de abril passado, quando foi excluído pelo Ministério da Educação do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), que nos últimos três anos havia repassado R$ 55 milhões. A justificativa é a de que o hospital consta em cadastro de instituição filantrópica – o que já o tornaria beneficiário em outro programa.

De acordo com o diretor, o hospital foi criado como entidade filantrópica pelo mesmo grupo privado que criou, em 1933, a Escola Paulista de Medicina, que mais tarde seria federalizada. “No entanto, não foi federalizado. Juridicamente, é um hospital filantrópico que presta serviços para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).”

A Frente em Defesa das Universidades Públicas no Estado de São Paulo e a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa aprovaram moção de apoio ao hospital.

Campinas e região

Referência para mais de 6 milhões de habitantes de Campinas e cidades vizinhas, o Hospital das Clínicas Universidade Estadual de Campinas (HC/Unicamp) é considerado pequeno. No entanto, é a única alternativa de atendimento oncológico para essa população. Realiza mais de 500 mil atendimentos por ano, o que inclui pronto-atendimento e cirurgias de grande porte, como transplantes. O HC é responsável por todos os exames de papanicolau, de prevenção ao câncer do colo uterino.

Escola para 600 estudantes de Medicina e 620 residentes em diversas especialidades, fica com 16% do orçamento que a Unicamp recebe do governo do estado via Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Isso corresponde a R$ 120 milhões mensais, recursos congelados desde 2012 e cada vez mais comprometidos com folha de pagamento. O montante corresponde a 75% do orçamento, composto ainda por convênios específicos com o SUS e emendas parlamentares.

“Do nosso orçamento fixo, 60% vai para despesas com pessoal. O percentual deverá aumentar, já que em agosto haverá novo reajuste anual. Parte do nosso problema poderia ser resolvido caso pudéssemos receber recursos da filantropia, mas a legislação impede essa fonte de financiamento para hospital universitário estadual”, disse o superintendente do HC, João Batista de Miranda.