Conflito de interesses

Médica ligada à OS Santa Catarina será secretária-adjunta da Saúde

Desde 2008, Maria da Gloria Zenha Wieliczka era diretora executiva da OS que tem contratos com a prefeitura de São Paulo. Dirigente da OS Santa Marcelina deve assumir Coordenação de Saúde Leste

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A OS dirigida por Maria da Glória atua na gestão de UBS, AMA, CAPS e outros equipamentos de saúde na região Sul

São Paulo – O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), nomeou para o posto de secretária-adjunta da Saúde a diretora executiva da Organização Social da Associação Congregação de Santa Catarina, Maria da Glória Zenha Wieliczka. A nomeação foi publicada em edição extraordinária desta segunda-feira (2) do Diário Oficial do Município de São Paulo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a organização social nega o vínculo da secretária-adjunta com a entidade. Em nota enviada à redação, afirma ter deixado a OS no final de setembro passado. No entanto, o vínculo se mantinha em seu perfil na página na internet da empresa na qual é sócia, a VZ Associados. 

A OS Santa Catarina atua na região sul da capital, em bairros como Jardim Miriam, Cidade Ademar e Vila Joaniza. É responsável pela gestão de 23 das 453 unidades básicas de saúde (UBS), nove das 116 unidades de assistência médica ambulatorial (AMA), além de duas unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), um centro de especialidades odontológicas, uma unidade de referência à saúde do idoso (Ursi) e outra de assistência domiciliar.

Desde 2008, Maria da Glória, que será adjunta do secretário Wilson Pollara, atuava como diretora-executiva da OS Santa Catarina. Desde 2011, ela é sócia da VZ Associados Consultoria em Saúde.

De acordo com integrantes da equipe de transição, outro nome ligado ao setor é Elza Soares Braga, funcionária da OS Santa Marcelina, que atua na região leste. Elza ainda não teve nomeação publicada no Diário Oficial.

A organização Santa Marcelina mantém contratos com a prefeitura paulistana desde 2001. Atualmente é responsável, entre outras coisas, pela gestão de 14 AMA e 255 equipes de saúde da família em Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Itaim Paulista, Itaquera, Penha e São Miguel Paulista.

A escolha de nomes ligados ao setor privado para postos no comando da saúde pública da maior cidade brasileira, no entanto, não surpreende. “Não se podia esperar coisa diferente de Doria, que sempre deixou claro seu perfil empresarial e que comandaria a prefeitura como se fosse uma empresa”, diz o coordenador da União dos Movimentos Populares de Saúde de São Paulo, Frederico Soares.

Sem se dirigir à pessoa de Maria da Glória, mas às OS, ele se diz preocupado. “Vejo com preocupação a presença do setor dentro da prefeitura. Essas organizações já estão à frente de mais de 60% dos equipamentos de saúde, o que já é conflituoso.”

Frederico teme ainda que a atual gestão restrinja a participação social na fiscalização e gestão da saúde pública, a exemplo de gestores anteriores, como Gilberto Kassab e José Serra. Por isso, defende o fortalecimento e a qualificação do controle social, mediante aprimoramento dos conselheiros representantes dos usuários do SUS. “É grande o risco de cooptação por essa gestão empresarial e conservadora.”

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